Adormeci e sonhei. Sonhei que a árvore de Natal estava feita.
Linda, cheia de cor, perfeita. Até o cheiro a pinheiro acabado de cortar se
sentia na sala.
Lá no cimo, a minha estrela, no meio da cor, o meu anjinho.
Sentei-me em frente a ela, embalada por algum cântico de Natal,
que talvez só eu ouvisse.
Atraída por um brilho inesperado, olhei para cima. Era a minha
estrela, que brilhava agora mais forte. Era um feixe de luz que se formava, que
lentamente veio até mim.
Pelo caminho que se formou, desceu o anjinho da árvore, sorriu e
deu-me a mão.
Fui invadida por uma calma estranha, mas verdadeira.
Percebi que realmente era já Natal e fiquei feliz por isso. Em
breve, ouviria as renas no telhado, o Pai Natal a descer apressado pela
chaminé, e eu ficaria a espreitar como se não soubesse que ele ia chegar. Como
se já tivesse deixado de acreditar. E depois voltaria para a cama, à espera da
manhã seguinte, de fingir a surpresa ao descobrir um presente para mim. O que
seria este ano? Eram sempre presentes que eu podia usar até ao Natal seguinte.
Foi aí que acordei, com esta expectativa a abraçar-me.
Senti um aroma diferente a entrar no quarto. Levantei-me e
segui-o. Levava-me à sala. Era o cheiro do pinheiro acabado de cortar.
Lá no cimo, a minha estrela, no meio da cor, o meu anjinho.
Este poema foi publicado originalmente aqui, no Pense fora da caixa, blog em que publico regularmente. Descubram também as minhas publicações neste espaço, bem como a de outros talentosos artistas!
Lembro-me do exacto momento em que
atirei a toalha ao chão! Estava ensanguentada e ensopada em suor, já mesclada
com este líquido que se me substituiu nas veias.
Caiu pesada no chão, ecoou em mim,
perdida no ringue.
Lembro-me do exacto momento. Aqueles
segundos tornam-se cada vez mais distantes, o silêncio que explodiu na minha
cabeça torna-se mais difuso.
Ainda hoje me pergunto se; mas
quantos knock-out mortais devemos aguentar - na realidade?
Primeira. Arranque rápido. Segunda.
Terceira. Acelero. Quarta. Mais rápido. Quinta. Prego a fundo. Sem olhar para o
velocímetro. Ainda vejo a estrada. Mais. Mais rápido. Não é pela adrenalina. É
porque preciso chegar. Ou será pela adrenalina? Chegar onde? Chegar para quê?
Ninguém me espera. Nem eu já me espero. Acelero só para chegar. Já não vejo o
alcatrão, chegar? Se não sei para onde vou, como saberei que cheguei? Vou em
quinta, não há sexta, continuaria. Mas não faz sentido. Travagem brusca.
Esta foto é uma foto de uma foto. Infelizmente não consigo aqui transmitir toda a qualidade que ela tem. A foto original é de Maricruz Suarez. Convido-vos a descobrirem o original em www.maricruzsuarez.com
Eras tu, não eras? No outro dia, ao
fundo da sala? Escondias o rosto na sombra daquele canto, mas vi os teus olhos,
eles brilham em qualquer escuridão. Pelo menos sempre brilharam na minha, qual
farol a afastar-me dos rochedos.
Pois é, eu era um barco desgovernado,
tinha perdido o interesse pelas estrelas e até pelo Norte, só as ondas e o vento
– ora me puxando, ora me empurrando – me levavam a algum lugar.
Quando vi que me aproximava da costa
fiquei confusa, e ao mesmo tempo receosa. Depois de tanto tempo tornara-me loba
do mar, terra era para mim um local estranho.
Não concebia afastar-me das ondas,
daquele marulhar que após tanto tempo já me adormecia, daquele sol que não me
matava a sede, mas que me mantinha viva.
Mas já que o vento me levava a terra,
porque não descer?
Sensação estranha, essa a de pisar a
areia molhada, era fresca como o mar, mas ao mesmo tempo falava-me já da terra.
Atrás de mim o vento trazia-me o som
dos búzios, à minha frente, o seu irmão falava-me do perfume das folhas das
árvores, da resina dos seus troncos.
Avancei devagar, ignorando o que ia ali
encontrar.
Quando te vi, sobressaltei-me,
assustada por não seres uma criatura marinha.
Ao mesmo tempo, também não me parecias
uma criatura da terra, daquelas que eu lembrava.
Isso acalmou-me. Sempre tive
dificuldades em falar essa língua, agora talvez já não me lembrasse sequer
dela. Talvez contigo fosse mais fácil, os teus olhos pareciam ver o mar que me
habita, abraçado a esse pedaço de terra sem bandeira, onde mapa nenhum leva…
E por isso, em vez de voltar para a
água fiquei a observar-te, presa ao teu olhar também curioso.
Trocámos poucas palavras, foi uma
daquelas conversas , em que elas são o bastante, porque o que fica por
dizer não é importante.
Pernoitei no me chão do mar, mas o
colchão já não me parecia o mesmo, o meu sono já não era mais quieto.
Voltei a terra e tu passeavas lá , casualmente, como se não me esperasses.
Por ti troquei o mar pela terra, mas tu
partiste, afinal não eras faroleiro, apenas o meu farol.
Deixaste-me um pouco da tua luz, é com
ela que encontro o caminho na escuridão, esta outra.