Quem lê / Who's reading

"a escrita é a minha primeira morada de silêncio" |Al Berto

quinta-feira, 8 de março de 2012

Pequena bailarina / Little balerina

Atava as pequenas sandálias delicadas. Preparava-se para um ensaio, para se perder na música, nos movimentos sincronizados, na beleza das cores suaves, dos tecidos esvoaçantes... 
Em frente ao espelho, pronta para sair para mais um dia, parecia, por momentos, ver esse reflexo esbatido, por entre as luzes que entravam pela janela.

~**~

She would ty the delicate shoe. Getting ready for a rehearsal, to get lost in the music. in the syncronized movements, in the beauty of the soft colours , of the flowing fabrics...
Facing the mirror, ready to go out for another day, for a moment, that dimmed  reflextion seemed to appear, between the lights coming through the window.


Por vezes, a caminho do emprego,  a memória acompanhava-a,  o corrimão onde se apoiava parecia-lhe uma barra, a carruagem  a passar, aplausos. Lembrava-se das histórias que contava, das que gostaria de ter contado, deslizando pelo palco.  Agora já não contava histórias, mas ainda as imaginava.

~**~

Sometimes, on her way to work, those memories followed, the banisters were she grabed on, felt like a bar, the train going through, like applause. She would remember the stories she used to tell, the ones she would like to have told, slidding through the stage.  Now she didn't tell stories anymore, but she still imagined them.

           


Quando podia, fugia. Para lugares só seus. Nesses dias, era assim que se via. Como a pequena bailarina que já foi. Podia vestir-se de cisne e voar, ou de árvore e esticar os ramos até ao infinito; ser Giselle, Cinderela, Julieta, Sininho. 
Podia ser quem a música que tinha dentro de si lhe pedisse. 
Estivesse junto ao mar, dançava com as ondas; estivesse num bosque, voava com os pássaros; estivesse num campo aberto, seria flor, frágil, movendo-se ao vento. 

~**~

When she could, she would run away. In those days, that's how she saw herself. Like the little balerina she once was.   She could dress like a swan and fly, or like a tree and spread her branches into infinite; be Giselle, Cinderela, Juliet, Tinkerbell.
She could be who ever the music inside hersel would ask her.
By the sea, she would dance with the waves,;in the woods, she would fly with the birds; in an open field, she would be a flower, frail, moving with the wind.


                               

Da janela da sua casa, conseguia ainda ver as ruas da sua terra natal... As ruas que percorreu pela mão da sua mãe, até à pequena loja de vestidos, para comprar a roupa para a sua primeira aula. A mesma loja onde anos mais tarde comprou o vestido que ainda guardava no seu quarto. Um tecido macio, cores suaves, pequenas plumas, discretas, um pequeno motivo desenhado com pérolas. Guardava também os ganchos com que prendeu o cabelo, para o libertar no final. 

~**~

From the window of her house, she could still see the streets of her home town... The streets she went by, holding her mother's hand, to the small dress store, to buy clothes to her first class. The same store where years later she bought that dress, the one still kept in her bedroom.  A soft cloth, smooth colours, small feathers, discrete, a small print drawn with pearls. She also kept the hairpins, she used to hold her hair, to set it free at the end.





Um dia ... deixou a sua janela e saiu para a rua e dançou, dançou, libertou toda a sua alma...! Dançou até ficar exausta. E viu que as pessoas já não avançavam apressadas, sem a ver. Um círculo juntou-se à sua volta. E ouviu aplausos. Voltara ao palco.  

~**~ 

One day ...  she left her window and she went out and she danced, and danced, letting her soul free...! She danced until she was exhausted. And she saw that people were no longer moving on a hurry, without seeing her. A circle gathered aroud.  And she heard aplause. She was back on the stage.



Fotos da série / Photos from the series:  
New York City Ballerina Project - Dane Shitagi


A propósito do Dia Internacional da Mulher, aqui fica um poema para todas nós, à distancia de um click:

13 comentários:

  1. quem ama a dança

    não consegue sossegar

    linda a pequena bailarina!

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  2. A paixão é assim,causa desassossego... :)

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  3. A mulher foi feita da costela do homem,
    não dos pés para ser pisada, nem da cabeça para ser superior,
    mas sim do lado para ser igual,
    debaixo do braço para ser protegida e do lado do coração para ser amada." (Maomé)
    E realmente isso que Deus fez e graças ao primeiro casal hoje todo ser
    humano da face da terra são descendentes de Adão e Eva .
    Um Feliz Dia Internacional Das Mulheres.
    Beijos no coração.
    Evanir.

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  4. Um dia ela acordou e entregou-se a arte de dançar a vida e descobriu que todo lugar é um palco. Delicioso isso. Maravilhosa sensação.
    bacio

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    Respostas
    1. Suponho que quando se gosta de dançar, qualquer lugar possa ser um palco :)

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  5. Belíssimo texto.
    Com a suavidade de uma dança de sonho.
    Gostei muito. Também do acompanhamento que fizeste com as fotos.
    Isa, querida amiga, tem um bom fim de semana.
    Beijos.

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    Respostas
    1. Obrigada, Nilson. Tentei transmitir dança no texto...!

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  6. Gostei imenso. A tua escrita é suave, doce, melodiosa. :)

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  7. O um belo texto, com fotos lindas...

    Bjos

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  8. Isa,
    Este conto fez-me lembrar o filme "Red Shoes" de Michael Powell & Emeric Pressburger. Não sei se conhece, mas é um clássico, uma maravilha da sétima arte. O seu texto parece uma síntese desses passos. Adorei!

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