Quem lê / Who's reading

"a escrita é a minha primeira morada de silêncio" |Al Berto

domingo, 29 de junho de 2014

Cansaço



Diz-me, Mundo, não estás cansado? Tens que estar, não é possível que não estejas cansado! Cansado, sabes o que é? Quando dói, mas uma dor de habituação, na vez daquela dor lancinante da surpresa, aquela que vem quando nos pregam uma rasteira e caímos ao chão de corpo todo. É sim aquela dor que mói, que pressiona os músculos, que os faz moverem-se mais devagar, ainda que a cabeça diga para correr. É isso o cansaço… Deves estar cansado…, não estás?

Pronto! Digo eu primeiro: estou cansada!!! Cansada destas lutas diárias contigo, deste eterno braço de ferro, que ganho nuns dias, perco noutros. Dias de glória, seguidos de dias de amarga derrota. E de bater de frente contigo, das nódoas negras que mal se vêm, mas estão lá… Na minha pele e na tua, Mundo! Não julgues que não tens marcas, porque também as tens, debaixo dessa tua basófia de que és superior a tudo, de que nada te atinge e nada te fere. És tão frágil como eu e como todos os outros. Só te julgas mais forte.

Mas tens a teu favor a vantagem da indiferença. Da indiferença de todos quantos se conformaram e vivem agarrados a ti. Alimentando-se de ti. Controlados por ti. Numa espécie de simbiose aparentemente equilibrada. E nem tu nem eles notam isso. Tu não notas que ninguém te reverencia, que apenas a necessidade e a comodidade os mantêm contigo. Muito menos eles notam que já se perderam a si mesmos…

E eu estou tão cansada… Por isso hoje apetece-me dizer-te que ganhaste! Que desisto! Que me leves tudo! Tudo o que sou, o que acredito, o que quero! Leva, leva tudo! Na realidade já tanto me tiraste, já tantos pedaços faltam neste puzzle embaralhado! Porque não levares tudo??


Leva, e deixa-me! Deixa-me aqui, sozinha, mas livre! Não pedirei nada mais!

# Monólogos da Desalinhada #

sexta-feira, 20 de junho de 2014

A princesa Laura


(Peço-vos que coloquem o som no máximo, para melhor ouvirem o conto... A minha inexperiência em gravar no computador não ajudou :) )


Para a Laura, a minha princesinha que sempre me faz sorrir e que me abraça com pedaços da sua Felicidade contagiante! Com um enorme beijinho de Parabéns!

~*~*~*~

As histórias infantis também podem ser ouvidas pelos adultos. Mas como vamos crescendo, algumas coisas mudam, e os finais das histórias podem ser diferentes. Por isso, aqui deixo o final desta história, dirigido aos meninos e meninas crescidas:

Final para os crescidos:
A pequena princesa foi crescendo e cresceram também os assuntos do reino com que tinha que se ocupar.
E por isso já não tinha tempo para contar histórias. A pequena cadeira cor-de-rosa ainda estava lá num cantinho do seu quarto. Mas a princesa já não conseguia sentar-se nela. Já estava demasiado crescida.
Mas a verdade é que, subitamente, teve vontade de contar uma das suas antigas histórias, e, como lhe apetecia muito a tarte de morangos da cozinheira Ana, foi até à cozinha e perguntou-lhe se ela se lembrava dessa história.
“Lembro-me, sim, minha princesa, mas gostaria muito de a ouvir outra vez!”
E Laura começou então a contar a sua história de quando era criança.
Logo, logo, na mesa da cozinha surgiu um morango gigante, e a forma de tarte gigante e tudo o mais da história.
Feliz, a cozinheira Ana começou logo a preparar a sua tarte.
A princesa convocou todos os habitantes do castelo para um lanche de tarte de morango e de chá de jasmim.
Sentada numa ponta da mesa, Laura via os sorrisos de todos e percebeu que a sua fada não lançara um encantamento sobre a sua cadeira. Apenas lhe tentara dizer para usar sempre a sua imaginação e pensar em coisas felizes. A Felicidade espalha-se à volta de quem a tem. Era por isso que, todos se sentavam a ouvir as suas histórias. Porque ela os levava a viajar na sua imaginação.
E, de repente, surgiu-lhe a ideia de uma história nova. Sabia que nunca mais iria parar de contar histórias, sempre haveria um tempinho para isso no meio dos afazeres da princesa.
Atrás, pela janela do castelo, saiu uma borboleta azul. Deixando atrás de si uma estrada de pózinhos e perfume.

domingo, 15 de junho de 2014

Pranto de mãe

Arte: Madre proletaria 1929 David Alfaro Siqueiros

A muitos filhos
Dei à luz
Todos tão diferentes
Mas tão iguais
No amor que me inspiram
Todos acolho
Em meu regaço
Todos quero proteger
Mas meus braços
A força perdem cada dia;

Minha carne também se fere
Sangra como qualquer ser
Meus filhos esqueceram-no
A todos quero ajudar a respirar
Meus pulmões de ar também precisam
Meus filhos esqueceram-no
Meu ventre nova vida quer oferecer
Mas precisa de terra fértil
Meus filhos esqueceram-no;

De meus olhos escorre o sal
Do mar que se perde
Assim é o meu pranto
Pranto que não vêm
Que não ouvem
Pranto de Mãe Terra.


Poema originalmente publicado aqui, no Blog Pense fora da caixa



Vídeo: Vangelis - Beautiful Planet Earth

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Bullets

Arte: Marius Markowski
I feel the bullets in my body, most of them bounce back, they fall on the ground, next to their old shells, now empty shells.
Still, some reach my skin, blood pours from my flesh, wounds that will never completely close. Here and there, a big hole, from side to side, some bullets go just through.
But still no one merciful final bullet finds me. One bullet missing: the one that will bring me back to life…


sábado, 7 de junho de 2014

In or out

Foto da web

Yesterday madness paid me a visit
We had a cup of tea
And two slices each
Of that nice orange and chocolate cake
We had a good laugh
And all the afternoon
Was filled with noise
The nigh came
And she excused herself
I guess even madness needs to sleep.
And so here I am
Lucid again
Deaf by the absurd silence
Aware of the prison bars
Doubting
Whether they are in
Or out…


quarta-feira, 4 de junho de 2014

Mensagem de uma gaivota

Sentei-me na areia, onde as ondas acabam. Vinda do horizonte, uma gaivota poisou a meu lado. Trazia um bilhete com ela. Era para mim, foi o que me disse.

"Espera só mais um sopro do vento, estou quase a chegar." - Estava escrito numa caligrafia desconhecida.

Nunca uma gaivota me mentiu.


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