Quem lê / Who's reading

"a escrita é a minha primeira morada de silêncio" |Al Berto

sábado, 24 de novembro de 2012

Pardais / Sparrows

La dispute – composed by Yann Tiersen (piano)

Todos os dias ia para o campo. Vestia o fato puído, a camisa meio rasgada, o chapéu sem topo. Todos os dias ficava no campo, estivesse ele seara ou de verdes vestido. Sol ou chuva, a ele pouco lhe importava. Fazia o seu trabalho. Espantava os pardais.

Havia quem não gostasse do trabalho, não gostavam de ficar de pé todo o dia, das roupas que tinham que usar, alguns tinham pena dos pardais, imagine-se! Não entendia, não conseguia entender!

O campo era acolhedor, os dias corriam certos, chegava ao fim de cada um com uma sensação boa, de dever cumprido, de ser o melhor no que fazia. Gostava de estar no campo, pelo contrário aborrecia-se à noite, nunca conseguia adormecer cedo, tinha que gastar horas e, por vezes não sabia como.

Numa altura, um colega de outro campo vinha visitá-lo à noite, pensou que poderiam falar do vento, de como ele sabia escolher o melhor sítio para se colocar de manhã, dos pardais, de como voavam para longe quando o viam, assustados, apostava que não sabiam porque estavam assustados, mas ainda assim fugiam, eram assim os pardais. Amedrontados.

Mas não, falava de como estava ali de passagem, de como iria um dia sair dali e viajar pelo mundo. Queria voar, que tolice, queria ser como os pardais?!

Felizmente, um dia deixou de o visitar, não foi necessário mandá-lo embora. Não sabia se continuava nos campos ou se tinha de facto voado… Também, o que interessava isso?
Hoje ao fim do dia, recebeu um fato novo, negro, palha nova para o forro, parece mais assustador que nunca, os pardais nem saberão o que aconteceu!

Está em casa, dá voltas na cama, a manhã tarda, o relógio move-se devagar. Amanhã irá para o campo, passos firmes, braços abertos, olhar duro, assim se assustam os pardais!

**

Every day he went to the fields. He wore a threadbare suit, shirt half torn, hat without the top. Every day he was on the field, whether it was harvest or green. Sunshine or rain, it mattered little to him. He did his job. He frightened the sparrows.

There were those who did not like the work, did not like to stand there all day, the clothes they had to wear; some pitied the sparrows, imagine that! He didn’t understand, he couldn’t understand!

The field was cosy, the days went by quietly, he ended each one with a good feeling of accomplishment, of being the best at what he did. He liked being on the field, rather bored at night, never fall asleep early, had to spend hours and sometimes he did not know how.

At one point, a colleague from another filed came to visit him at night, he thought he could speak of the wind, about how he knew how to choose the best place to put yourself in the morning; the sparrows, how they flew away when they saw him, frightened, not knowing why they were frightened, but still fled, those were sparrows. Frightened.

But no, he would say he was passing by, he would one day get out and travel the world. He wanted to fly, that foolish boy, he wanted to be like the sparrows?!

Fortunately, one day he stopped visiting, there was no need to send him away. He didn’t know if he was still on the fields or if he had actually flown ...Anyway, what did that matter?

Today in the afternoon, he received a new suit, black, new straw for the lining, it seems more daunting than ever, the sparrows will not even know what happened!
He’s at home, moves around in his bed, the morning delays, the clock moves slowly. Tomorrow he will go to the field, firm steps, open arms, hard look, so we scare the sparrows!

16 comentários:

  1. um belo texto, que gostei muito de ler.
    bom fim de semana.
    um beijo

    :)

    ResponderEliminar
  2. Um texto delicioso, Isa e imenso em possibilidades.Adorei!

    Beijinhos, querida e ótimo domingo.

    ResponderEliminar
  3. Eu não dava para fazer de espantalho a afugentar os pardais... pela simples razão de que eles não têm muito medo de mim. Em tempos, um até veio comer pão à minha mão. E eu é que fiquei assustado com aquela intimidade...
    Gostei do teu texto, é magnífico.
    Beijinhos, querida amiga.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ou então já não se fazem pardais como antigamente... ;)

      Beijinhos

      Eliminar
  4. Muito bonito, gostei imenso de ler.

    Beijinhos

    ResponderEliminar
  5. e na estrada dos tijolos amarelos encontrou o homem de lata,

    seguiram os dois em busca de um coração,


    o feiticeiro, morava num conto de pardais


    um beijo

    ResponderEliminar
  6. A complexidade do sentir,o espantalho almejando voar,igual

    aos pardais,estes assustados ao contato com o ritual dos

    espantalhos...

    Maravilhoso ler-te!

    Beijo.

    Ps:Que bela melodia(trilha sonora) espelhando a alma

    poética do teu lindo texto!

    ResponderEliminar
  7. fiquei fascinada com a tua história, parece poesia
    e cheia de vontade de conhecer o campo, esse sitio mágico que descreves

    beijinho

    ResponderEliminar
  8. gostei muito do texto,

    será um espantalho sempre um espantalho?

    isto é, assustador ele é....para os pardais.


    gosto muito de te ler.

    Beijo :)

    ResponderEliminar

Um espaço para recortes que completem o álbum de instantâneos... Obrigada pela visita!
A space for clip to complete this snapshot album... Thank you for your visit!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Mensagens populares / Popular messages