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"a escrita é a minha primeira morada de silêncio" |Al Berto

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Baloiço / Swing


tree-swing-keinu_by ansik


Já tinha sido um baloiço vermelho, com as correntes direitas, bem oleadas. As crianças não brincavam sempre, o intervalo não durava o dia todo, mas quando era a altura, todas as crianças queriam brincar com ele. Cansava-se de andar para a frente e para trás, doía-lhe o metal, mas era feliz. O riso das crianças fazia-o esquecer do cansaço, descansava depois, quando o intervalo acabava.
A Alice era a sua favorita, muitas vezes ia sentar-se lá com ele quando já toda a gente tinha ido para casa. Movia os pezinhos devagar, compassadamente, apoiada nas correntes, sem balançar demais. Por vezes cantava. Baixinho. Mas ele ouvia-a. Cantava bem, voz melodiosa, talvez um dia viesse a ser cantora. Chegava um carro e ela ia embora, mas no outro dia voltava.
Isso foi quando era um baloiço vermelho. Agora a chuva, o sol, o granizo, haviam corroído toda a tinta, e ninguém o pintou de novo. As correntes estavam já tortas, meio gastas, em alguns sítios. Queria baloiçar, mas apenas um vento mais forte o fazia por vezes mover-se. Já não havia crianças a correr à sua volta, a competir pela sua vez de ir para o baloiço. Já não havia crianças. Ou pelo menos há muito tempo que não as via.
A Alice ainda passava lá, quase todos os dias. Mas estava crescida, supunha que já não o reconhecia. Passava lá perto e já não se sentava com ele. Tão pouco cantava. No fundo, talvez fosse isso que o deixava mais triste. A Alice já não cantava.

***

He had been a red swing, with his chains straight, well oiled. Children didn’t always played, the break didn’t last all day, but when it was time, all the kids wanted to play with him. Tired of going back and forward the metal would ached him, but he was happy. The laughter of children made ​​him forget the fatigue, he rested then, when the break ended.
Alice was his favourite, often she would sit there with him when everyone had already gone home. She moved her feet slowly, rhythmically, supported in his chains, without moving too much. Sometimes she sang. Softly. But he heard it. She sang well, a melodious voice, maybe one day she would be a singer. Then a car would come and she walked away, but returned the next day.
That was when he was a red swing. Now the rain, sun, hail, had destroyed all the ink, and nobody painted him again. The chains were already bent, worn through in some places. He wanted to swing, but only a strong wind made him move sometimes. There were no children running around, competing for their turn to go to the swing. There were no children. Or at least he didn’t see them anymore.
Alice still went there almost every day. But he was grown, he supposed that she no longer recognized him. She passes by and was no longer sits with him. Nor sings. At the end of the day, maybe that's what made ​​him sadder. Alice no longer sang.

13 comentários:

  1. Crescer faz esquecer muita coisa mas esquecer de cantar, isso é descontentamento!

    Bj*

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  2. Em casa tinha um baloiço, mas eu não gostava de brincar nele, gostava de observá-lo pela janela quando ventava. pequenos movimentos para frente e para trás. Hoje é apenas uma lembrança perdida em meu íntimo. E foi exatamente isso que eu me lembrei enquanto lia. rs

    bacio

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  3. deste voz a um baloiço, num texto muito interessante.

    e não é só a Alice que já não canta...

    bom fim de semana.

    beijo

    ;)

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  4. Belíssima analogia entre o baloiço e ciclos e humores da vida!

    Beijos.

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  5. Também tive um baloiço pintado de vermelho! já não existe e eu também já não canto...
    Bjs

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  6. Minha querida

    Por vezes a vida nos faz deixar de gostar de coisas simples, como cantar e sonhar.

    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

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  7. À medida que crescemos, vamos esquecendo muitas coisas que nos faziam felizes...
    Magnífico texto, gostei imenso.
    Isa, tem um bom resto de domingo e uma boa semana.
    Beijo.

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  8. Ah...o velho baloiço espectador da infância de tantas Alice! lindo texto.

    Beijo

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  9. Oi Isa
    Eu nunca tive um balanço, mas tive um burrico, onde andava pela cidade com ele, quando criança. O burro cresceu meu pai me colocava encima dele. Depois eu cresci ele estava velho, não podia mais me carregar, mas até o dia da sua morte ia visitá-lo e escovar suavemente seu pelo duro. Morreu e até hoje eu não o esqueço.
    São pequenos detalhes da minha infância
    Gostei do seu blog e deixei um comentário na mostragem de contos e prosas, ficou linda a sua participação.
    Abraços
    Lua Singular

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  10. eu tive um baloiço

    de madeira pintada de encarnado,

    talvez tenha sido Alice


    gosto do imaginário perdido dos baloiços


    um abraço

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  11. Ola Isa

    Belo texto!

    Muito obrigada pela visita em meu simples cantinho e tb pelo comentario!

    Bem vinda la e volte quando quiser.

    Abraços!

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  12. A resposta foi magnífica!
    Grande texto. Bj

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  13. a velha historia do tempo, passa por todos,

    como era fácil , um baloiço fazer-nos feliz!

    talvez, seja isso que falta, dar importância aos pormenores para sermos novamente crianças!

    gostei muito do texto.

    Beijinhos :)

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