Dark Lolita (Kodona Style)_by Cha Tox |
Como um
espartilho colado à cintura, o sentia, a apertar o peito, esse amor, que sem ela
saber bem como, ali estava. Contra o peito, espartilho, cortava o ar à
respiração. Tinha ouvido dizer que havia quem não o usasse, mas estava
habituada, o espartilho moldava-lhe a cintura fina, o colo generoso, sentia-se
bonita.
Não
poderia sair à rua sem o seu espartilho, seria mais um boneca desengonçada,
triste. Sabia que o silêncio a rodearia, como a olhariam, e que esse não esse o
olhar que queria.
Quando
tirava a roupa, quando a pele se tocava, os lábios se beijavam e os corpos se
misturavam, em movimentos compassados, ensaiados; ainda mantinha o espartilho.
Sentia aquele calor estranho, como se fosse apenas morno, mas ao mesmo tempo a
queimasse, deixando uma ferida fria que sarava no dia seguinte. Sarava quando
saía e não era boneca desengonçada, sem espartilho que a mantivesse elegante.
Mas
quando se via nua apenas ela, quando se atrevia a tirar a roupa frente ao
espelho, desapertava o espartilho, conseguia respirar, e parecia bom, parecia
que podia ser livre. E então o medo era mais forte, não podia ser bom, nunca
seria nunca bom, não seria nunca uma boneca desengonçada, triste, só.
-*-*-*-
Like a corset glued to the waist, she felt it, against
her chest, that love. That love that was there, without her knowing how.
Against her chest, corset, cutting off the air to her breathing. She had heard
that some didn’t use it, but she was used to it, the corset would shape her thin
waste, her generous bosom, she felt pretty.
She could go out without her corset, she would be
another gangling doll, sad. She knew silence would surround her, how people
would look at her, and that was not the look she wanted.
When she took her clothes, when skin would touch, lips
would kiss e bodies would mix, in rhythmic movements, rehearsed; she still kept
her corset. She would feel that strange warmth. As if only tepid, but at the
same time burning, leaving a cold wound that healed the next day. It healed
when she went out and she wasn’t a gangling doll, without a corset to keep her
elegant.
But when she looked at herself naked, when she dared
to take the clothes in front of the mirror, she would untie the corset, she
could breath, and it seemed to be good, it seemed as if she could be free. And
then, fear was stronger, it couldn’t be good, it would never be good, she would
never be a gangling doll, sad, alone.
ResponderEliminarGostei muito!
Parabéns!
Obrigada! Beijos
EliminarUm texto muito bem concebido.
ResponderEliminarQue são os espartilhos? Suportes ou prisões?
Beijinho, amiga.
Penso que são ambos, depende de quem os usa... Beijinhos
EliminarIsa, há uma sensibilidade e uma sensualidade intensas e profundas no seu texto.
ResponderEliminarGostei é dizer pouco.
Excelente!
Obrigada Dulce, ainda bem que gostaste!
EliminarLendo o teu belíssimo texto senti alguma dúvida em relação à forma de sentir e viver o amor.
ResponderEliminarVivido como um espartilho é sufocante...
Beijos.
Mas por vezes enquanto ainda se respira, essa sensação não é visível...
Eliminarbeijos
ResponderEliminarTão dificil olhar a pele nua do que nos torna suportável a elegância de ser sem que o olhar do outro seja aprovação.
Beijo Isa
Por vezes, o espelho, talvez...?
EliminarBeijo
Há espartilhos que são castradores da liberdade...
ResponderEliminarMagnífico texto.
Isa, tem uma boa semana.
Beijinhos.
Embora pareçam ajudar a andar...
EliminarObrigada pela visita e pelas palavras, Nilson!
Beijo
doeu-me este texto.
ResponderEliminare sabes, acho que com ou sem espartilho, por vezes é assim que nos sentimos.
muito bem escrito, como aliás tudo o que escreves.
um beij
Escolhi o amor para espartilhar, mas na realidade acho que este sentimento está presente em várias áreas da nossa vida...
EliminarObrigada pelas palavras que sempre aqui deixas!
Beijos
Por vezes publico os vossos comentários através do telemóvel e... por vezes o ecrã táctil é sensível demais... E por isso sem querer apaguei o comentário da Vanessa (Escritora de Artes)... Com as minhas desculpas, aqui transcrevo o comentário que recuperei no e-mail:
ResponderEliminar"Olá Isa,
Intenso... gostei muito!
Abçs "
E obrigada eu, pela tua visita!
Beijos
Vejo o espartilho como algo sufocante, e por vezes sinto-me com ele...
ResponderEliminarGostei muito deste belíssimo texto!
Bjs
Por vezes o espartilho aperta-se-nos à cintura...
Eliminarbeijos, obrigada
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEspartilho é coisa do passado! O que vale mais hoje é a generosidade dos corpos sem sufocar física ou mentalmente. Entende? Gostei muito do texto. Bj
ResponderEliminarEntendo, sim! Mas acho que ainda há quem insista no espartilho...
EliminarBeijos
Minha querida
ResponderEliminarPor vezes esse espartilho tira-nos a liberdade de sermos nós...mulheres plenas.
Sempre profundo ler-te.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
É triste quando nos acostumamos com os espartilhos da vida...
ResponderEliminarMuito bom o texto, Isa.Gostei muito!
Beijinhos.
o espartilho da alma, por vezes é difícil solta-la
ResponderEliminardeixa-la ser, sermos mais nós!
gostei imenso!
Beijinhos!