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"a escrita é a minha primeira morada de silêncio" |Al Berto

domingo, 4 de novembro de 2012

A sombra de um homem / The shadow of a man

Me parezco al que llevaba el ladrillo consigo_Eneas

Era a sombra de um homem. Devia estar acompanhada, nenhuma sombra existe sozinha, mas só a via a ela. Achei que era ilusão de óptica, mas lá estava ela, a sombra. Movia-se, via-a a correr, via os pássaros a fugir, assustados com a sua presença, com o barulho que fez ao passar.
Há pessoas assim, pensará a maioria que são pessoas tristes, daquelas que passam por este mundo, habitando-o apenas.
Talvez a maioria seja. Mas esta julgo que não, não olho esta sombra com pena. Corre e brinca, como se fosse a sombra de uma criança. Mas é a sombra de um homem, grande.
Imaginei uma sombra que fugiu do corpo, um daqueles corpos que não gosta de dançar, nem sequer de ver dançar. Será uma sombra rebelde, que sonhava correr, dançar, fazer o pino. Aprisionada em músculos presos a ossos em formação perfeita, que não dão um passo fora do plano, para que a formação não se perca.
E então terá fugido. Terá deixado o corpo para trás, sentado na mesma cadeira de todos os dias.
Sendo sombra deverá ser mais livre, conseguirá caminhar por entre as gotas da chuva, se quiser. Se não quiser, pode deixar que a chove a encharque.
A sombra é agora livre, e o seu corpo não deverá sentir a falta dela. Nem devia saber que tinha uma sombra.

***

It was the shadow of a man. It should have company, no shadow exists on it’s own, but I could only see it. I thought it was an optical illusion, but there it was, the shadow. It moved, I could see it running, I could see the birds flying, frightned by it’s presence, with the noise it made walking by.
There are people like this, most of you will think they are sad persons, one of those who go through this world, inhabiting it only.
Maybe most of them are. But this one, I don’t think so, I don’t look at it with sorrow. It run’s and play’s, as if it was the shadow of a child. But it is the shadow of a man, a big man.
I imaged a shadow that fled from the body, one of those bodies that doesn’t like to dance, to stand upside down. Imprisoned in muscles glued to bones in perfect formation, who don’t move one step out of the plan, so that formation doesn’t get lost.
And so it must have fled. It will have left the bodu behind, seating in the same chair as everyday.
Being a shadow, it should be more free, now, will be able to walk betweem the raindrops, if it will. If not, it can let the rain soak it.
The shadow is now free, and the body probably doesn’t misses it. I suppose he didn’t know he had a shadow.

14 comentários:

  1. Em criança adorava brincar com a minha sombra, corria, saltava e muito gargalhava... éramos felizes.
    Bjs

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  2. Talvez as sombras sejam tão aprisionadas quanto as almas...

    Belo texto..

    Bjos

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  3. Talvez as sombras sejam o inefável duplo dos seres aprisionados...

    Belo texto, minha amiga.


    bjs

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  4. E eu aqui a ouvir TOm Jobim enquanto brincava com sua sombra. Adorei seu texto. Senti saudades daqui, mas havia perdido o caminho. Fui publicar um texto antigo e lá estava. Então cá estou eu uma vez mais e dessa vez o link está a salvo nos favoritos...
    Enfim, vou me lambuzar com as sombras que se perdem lá fora e imaginá-las perdidas de homens sem movimentos. rs Rebeldes.

    bacio

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  5. A sombra só existe na dependência de alguém...e nós somos livres? certamente somos a tal sombra...Gostei - beijinhos

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    Respostas
    1. Não será a liberdade uma dúvida e desafio constantes...?

      Beijo

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  6. Minha querida

    Por vezes essas sombras são a sombra da nossa sombra e para todo o lado nos acompanham.
    Um texto cheio de inspiração e magia.

    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

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  7. a sombra...

    mesmo na noite ela continua lá

    beijinho

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  8. Olá Isa,

    A sombra expressa um espaço(uma maneira)de lembramos da

    liberdade,plasticidade de ser "criança viva" nessa realidade

    tão concreta...

    Gostei muito,muito do teu belíssimo texto poético!!

    Beijo.

    Ps:Segui a trilha poética da minha amiga Maria(blog teoria

    do caos) e encontrei o teu mágico espaço...

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  9. As memórias presas em sombra,
    Talvez, ela se tenha tornado livre
    Quando a memória de alguém a esqueceu…

    Gostei imenso!
    Este texto deixa muito á imaginação.

    Beijos!

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Um espaço para recortes que completem o álbum de instantâneos... Obrigada pela visita!
A space for clip to complete this snapshot album... Thank you for your visit!

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