La dispute – composed by Yann Tiersen (piano)
Todos os dias ia para o campo. Vestia o fato
puído, a camisa meio rasgada, o chapéu sem topo. Todos os dias ficava no campo,
estivesse ele seara ou de verdes vestido. Sol ou chuva, a ele pouco lhe
importava. Fazia o seu trabalho. Espantava os pardais.
Havia quem não gostasse do trabalho, não
gostavam de ficar de pé todo o dia, das roupas que tinham que usar, alguns
tinham pena dos pardais, imagine-se! Não entendia, não conseguia entender!
O campo era acolhedor, os dias corriam
certos, chegava ao fim de cada um com uma sensação boa, de dever cumprido, de
ser o melhor no que fazia. Gostava de estar no campo, pelo contrário
aborrecia-se à noite, nunca conseguia adormecer cedo, tinha que gastar horas e,
por vezes não sabia como.
Numa altura, um colega de outro campo vinha
visitá-lo à noite, pensou que poderiam falar do vento, de como ele sabia
escolher o melhor sítio para se colocar de manhã, dos pardais, de como voavam
para longe quando o viam, assustados, apostava que não sabiam porque estavam
assustados, mas ainda assim fugiam, eram assim os pardais. Amedrontados.
Mas não, falava de como estava ali de
passagem, de como iria um dia sair dali e viajar pelo mundo. Queria voar, que
tolice, queria ser como os pardais?!
Felizmente, um dia deixou de o visitar, não
foi necessário mandá-lo embora. Não sabia se continuava nos campos ou se tinha
de facto voado… Também, o que interessava isso?
Hoje ao fim do dia, recebeu um fato novo,
negro, palha nova para o forro, parece mais assustador que nunca, os pardais
nem saberão o que aconteceu!
Está em casa, dá voltas na cama, a manhã
tarda, o relógio move-se devagar. Amanhã irá para o campo, passos firmes,
braços abertos, olhar duro, assim se assustam os pardais!
**
Every day
he went to the fields. He wore a threadbare suit, shirt half torn, hat without
the top. Every day he was on the field, whether it was harvest or green.
Sunshine or rain, it mattered little to him. He did his job. He frightened the
sparrows.
There
were those who did not like the work, did not like to stand there all day, the
clothes they had to wear; some pitied the sparrows, imagine that! He didn’t understand,
he couldn’t understand!
The field
was cosy, the days went by quietly, he ended each one with a good feeling of
accomplishment, of being the best at what he did. He liked being on the field,
rather bored at night, never fall asleep early, had to spend hours and
sometimes he did not know how.
At one
point, a colleague from another filed came to visit him at night, he thought he
could speak of the wind, about how he knew how to choose the best place to put
yourself in the morning; the sparrows, how they flew away when they saw him,
frightened, not knowing why they were frightened, but still fled, those were sparrows.
Frightened.
But no, he
would say he was passing by, he would one day get out and travel the world. He
wanted to fly, that foolish boy, he wanted to be like the sparrows?!
Fortunately,
one day he stopped visiting, there was no need to send him away. He didn’t know
if he was still on the fields or if he had actually flown ...Anyway, what did
that matter?
Today in the
afternoon, he received a new suit, black, new straw for the lining, it seems
more daunting than ever, the sparrows will not even know what happened!
He’s at
home, moves around in his bed, the morning delays, the clock moves slowly.
Tomorrow he will go to the field, firm steps, open arms, hard look, so we scare
the sparrows!
um belo texto, que gostei muito de ler.
ResponderEliminarbom fim de semana.
um beijo
:)
:) Obrigada! Beijinhos
EliminarUm texto delicioso, Isa e imenso em possibilidades.Adorei!
ResponderEliminarBeijinhos, querida e ótimo domingo.
:) Obrigada, uma boa semana!
EliminarEu não dava para fazer de espantalho a afugentar os pardais... pela simples razão de que eles não têm muito medo de mim. Em tempos, um até veio comer pão à minha mão. E eu é que fiquei assustado com aquela intimidade...
ResponderEliminarGostei do teu texto, é magnífico.
Beijinhos, querida amiga.
Ou então já não se fazem pardais como antigamente... ;)
EliminarBeijinhos
Muito bonito, gostei imenso de ler.
ResponderEliminarBeijinhos
Obrigada, beijinhos
EliminarGosto de te ler.
ResponderEliminarBjs
E eu de te receber aqui! :)
EliminarBeijo, boa semana
Olá Isa,
ResponderEliminarÉ um prazer te ler...
Bjos
Obrigada, Vanessa!
EliminarBeijo
e na estrada dos tijolos amarelos encontrou o homem de lata,
ResponderEliminarseguiram os dois em busca de um coração,
o feiticeiro, morava num conto de pardais
um beijo
A complexidade do sentir,o espantalho almejando voar,igual
ResponderEliminaraos pardais,estes assustados ao contato com o ritual dos
espantalhos...
Maravilhoso ler-te!
Beijo.
Ps:Que bela melodia(trilha sonora) espelhando a alma
poética do teu lindo texto!
fiquei fascinada com a tua história, parece poesia
ResponderEliminare cheia de vontade de conhecer o campo, esse sitio mágico que descreves
beijinho
gostei muito do texto,
ResponderEliminarserá um espantalho sempre um espantalho?
isto é, assustador ele é....para os pardais.
gosto muito de te ler.
Beijo :)