Já tinha sido um
baloiço vermelho, com as correntes direitas, bem oleadas. As crianças não
brincavam sempre, o intervalo não durava o dia todo, mas quando era a altura,
todas as crianças queriam brincar com ele. Cansava-se de andar para a frente e
para trás, doía-lhe o metal, mas era feliz. O riso das crianças fazia-o
esquecer do cansaço, descansava depois, quando o intervalo acabava.
A Alice era a sua
favorita, muitas vezes ia sentar-se lá com ele quando já toda a gente tinha ido
para casa. Movia os pezinhos devagar, compassadamente, apoiada nas correntes,
sem balançar demais. Por vezes cantava. Baixinho. Mas ele ouvia-a. Cantava bem,
voz melodiosa, talvez um dia viesse a ser cantora. Chegava um carro e ela ia
embora, mas no outro dia voltava.
Isso foi quando era
um baloiço vermelho. Agora a chuva, o sol, o granizo, haviam corroído toda a
tinta, e ninguém o pintou de novo. As correntes estavam já tortas, meio gastas,
em alguns sítios. Queria baloiçar, mas apenas um vento mais forte o fazia por
vezes mover-se. Já não havia crianças a correr à sua volta, a competir pela sua
vez de ir para o baloiço. Já não havia crianças. Ou pelo menos há muito tempo
que não as via.
A Alice ainda
passava lá, quase todos os dias. Mas estava crescida, supunha que já não o
reconhecia. Passava lá perto e já não se sentava com ele. Tão pouco cantava. No
fundo, talvez fosse isso que o deixava mais triste. A Alice já não cantava.
***
He had been a red swing, with his chains straight,
well oiled. Children didn’t always played, the break didn’t last all day, but
when it was time, all the kids wanted to play with him. Tired of going back and
forward the metal would ached him, but he was happy. The laughter of children
made him forget the fatigue, he rested then, when the break ended.
Alice was his favourite, often she would sit there with him
when everyone had already gone home. She moved her feet slowly, rhythmically,
supported in his chains, without moving too much. Sometimes she sang. Softly.
But he heard it. She sang well, a melodious voice, maybe one day she would be a
singer. Then a car would come and she walked away, but returned the next day.
That was when he was a red swing. Now the rain, sun,
hail, had destroyed all the ink, and nobody painted him again. The chains were
already bent, worn through in some places. He wanted to swing, but only a
strong wind made him move sometimes. There were no children running around,
competing for their turn to go to the swing. There were no children. Or at
least he didn’t see them anymore.
Alice still went
there almost every day. But he was grown,
he supposed that she no longer recognized him. She passes by and was no longer
sits with him. Nor sings. At the end of the day, maybe that's what made him sadder. Alice no longer sang.
Todos os dias ia para o campo. Vestia o fato
puído, a camisa meio rasgada, o chapéu sem topo. Todos os dias ficava no campo,
estivesse ele seara ou de verdes vestido. Sol ou chuva, a ele pouco lhe
importava. Fazia o seu trabalho. Espantava os pardais.
Havia quem não gostasse do trabalho, não
gostavam de ficar de pé todo o dia, das roupas que tinham que usar, alguns
tinham pena dos pardais, imagine-se! Não entendia, não conseguia entender!
O campo era acolhedor, os dias corriam
certos, chegava ao fim de cada um com uma sensação boa, de dever cumprido, de
ser o melhor no que fazia. Gostava de estar no campo, pelo contrário
aborrecia-se à noite, nunca conseguia adormecer cedo, tinha que gastar horas e,
por vezes não sabia como.
Numa altura, um colega de outro campo vinha
visitá-lo à noite, pensou que poderiam falar do vento, de como ele sabia
escolher o melhor sítio para se colocar de manhã, dos pardais, de como voavam
para longe quando o viam, assustados, apostava que não sabiam porque estavam
assustados, mas ainda assim fugiam, eram assim os pardais. Amedrontados.
Mas não, falava de como estava ali de
passagem, de como iria um dia sair dali e viajar pelo mundo. Queria voar, que
tolice, queria ser como os pardais?!
Felizmente, um dia deixou de o visitar, não
foi necessário mandá-lo embora. Não sabia se continuava nos campos ou se tinha
de facto voado… Também, o que interessava isso?
Hoje ao fim do dia, recebeu um fato novo,
negro, palha nova para o forro, parece mais assustador que nunca, os pardais
nem saberão o que aconteceu!
Está em casa, dá voltas na cama, a manhã
tarda, o relógio move-se devagar. Amanhã irá para o campo, passos firmes,
braços abertos, olhar duro, assim se assustam os pardais!
**
Every day
he went to the fields. He wore a threadbare suit, shirt half torn, hat without
the top. Every day he was on the field, whether it was harvest or green.
Sunshine or rain, it mattered little to him. He did his job. He frightened the
sparrows.
There
were those who did not like the work, did not like to stand there all day, the
clothes they had to wear; some pitied the sparrows, imagine that! He didn’t understand,
he couldn’t understand!
The field
was cosy, the days went by quietly, he ended each one with a good feeling of
accomplishment, of being the best at what he did. He liked being on the field,
rather bored at night, never fall asleep early, had to spend hours and
sometimes he did not know how.
At one
point, a colleague from another filed came to visit him at night, he thought he
could speak of the wind, about how he knew how to choose the best place to put
yourself in the morning; the sparrows, how they flew away when they saw him,
frightened, not knowing why they were frightened, but still fled, those were sparrows.
Frightened.
But no, he
would say he was passing by, he would one day get out and travel the world. He
wanted to fly, that foolish boy, he wanted to be like the sparrows?!
Fortunately,
one day he stopped visiting, there was no need to send him away. He didn’t know
if he was still on the fields or if he had actually flown ...Anyway, what did
that matter?
Today in the
afternoon, he received a new suit, black, new straw for the lining, it seems
more daunting than ever, the sparrows will not even know what happened!
He’s at
home, moves around in his bed, the morning delays, the clock moves slowly.
Tomorrow he will go to the field, firm steps, open arms, hard look, so we scare
the sparrows!
Como um
espartilho colado à cintura, o sentia, a apertar o peito, esse amor, que sem ela
saber bem como, ali estava. Contra o peito, espartilho, cortava o ar à
respiração. Tinha ouvido dizer que havia quem não o usasse, mas estava
habituada, o espartilho moldava-lhe a cintura fina, o colo generoso, sentia-se
bonita.
Não
poderia sair à rua sem o seu espartilho, seria mais um boneca desengonçada,
triste. Sabia que o silêncio a rodearia, como a olhariam, e que esse não esse o
olhar que queria.
Quando
tirava a roupa, quando a pele se tocava, os lábios se beijavam e os corpos se
misturavam, em movimentos compassados, ensaiados; ainda mantinha o espartilho.
Sentia aquele calor estranho, como se fosse apenas morno, mas ao mesmo tempo a
queimasse, deixando uma ferida fria que sarava no dia seguinte. Sarava quando
saía e não era boneca desengonçada, sem espartilho que a mantivesse elegante.
Mas
quando se via nua apenas ela, quando se atrevia a tirar a roupa frente ao
espelho, desapertava o espartilho, conseguia respirar, e parecia bom, parecia
que podia ser livre. E então o medo era mais forte, não podia ser bom, nunca
seria nunca bom, não seria nunca uma boneca desengonçada, triste, só.
-*-*-*-
Like a corset glued to the waist, she felt it, against
her chest, that love. That love that was there, without her knowing how.
Against her chest, corset, cutting off the air to her breathing. She had heard
that some didn’t use it, but she was used to it, the corset would shape her thin
waste, her generous bosom, she felt pretty.
She could go out without her corset, she would be
another gangling doll, sad. She knew silence would surround her, how people
would look at her, and that was not the look she wanted.
When she took her clothes, when skin would touch, lips
would kiss e bodies would mix, in rhythmic movements, rehearsed; she still kept
her corset. She would feel that strange warmth. As if only tepid, but at the
same time burning, leaving a cold wound that healed the next day. It healed
when she went out and she wasn’t a gangling doll, without a corset to keep her
elegant.
But when she looked at herself naked, when she dared
to take the clothes in front of the mirror, she would untie the corset, she
could breath, and it seemed to be good, it seemed as if she could be free. And
then, fear was stronger, it couldn’t be good, it would never be good, she would
never be a gangling doll, sad, alone.
Me parezco al que llevaba el ladrillo consigo_Eneas
Era a sombra de um homem. Devia estar acompanhada, nenhuma
sombra existe sozinha, mas só a via a ela. Achei que era ilusão de óptica, mas
lá estava ela, a sombra. Movia-se, via-a a correr, via os pássaros a fugir,
assustados com a sua presença, com o barulho que fez ao passar.
Há pessoas assim, pensará a maioria que são pessoas
tristes, daquelas que passam por este mundo, habitando-o apenas.
Talvez a maioria seja. Mas esta julgo que não, não olho
esta sombra com pena. Corre e brinca, como se fosse a sombra de uma criança.
Mas é a sombra de um homem, grande.
Imaginei uma sombra que fugiu do corpo, um daqueles corpos
que não gosta de dançar, nem sequer de ver dançar. Será uma sombra rebelde, que
sonhava correr, dançar, fazer o pino. Aprisionada em músculos presos a ossos em
formação perfeita, que não dão um passo fora do plano, para que a formação não
se perca.
E então terá fugido. Terá deixado o corpo para trás,
sentado na mesma cadeira de todos os dias.
Sendo sombra deverá ser mais livre, conseguirá caminhar por
entre as gotas da chuva, se quiser. Se não quiser, pode deixar que a chove a
encharque.
A sombra é agora livre, e o seu corpo não deverá sentir a
falta dela. Nem devia saber que tinha uma sombra.
***
It was the shadow of a man. It should have company, no shadow
exists on it’s own, but I could only see it. I thought it was an optical
illusion, but there it was, the shadow. It moved, I could see it running, I
could see the birds flying, frightned by it’s presence, with the noise it made
walking by.
There are people like
this, most of you will think they are sad persons, one of those who go through
this world, inhabiting it only.
Maybe most of them are.
But this one, I don’t think so, I don’t look at it with sorrow. It run’s and
play’s, as if it was the shadow of a child. But it is the shadow of a man, a
big man.
I imaged a shadow that
fled from the body, one of those bodies that doesn’t like to dance, to stand
upside down. Imprisoned in muscles glued to bones in perfect formation, who
don’t move one step out of the plan, so that formation doesn’t get lost.
And so it must have
fled. It will have left the bodu behind, seating in the same chair as everyday.
Being a shadow, it
should be more free, now, will be able to walk betweem the raindrops, if it
will. If not, it can let the rain soak it.
The shadow is now free,
and the body probably doesn’t misses it. I suppose he didn’t know he had a
shadow.
A
lua cheia ilumina-me o caminho, por entre uma chuva fininha que deixa pequenas
marcas na estrada, como que a deixar a marca do caminho de volta a casa. Que
neste momento não sei se quererei encontrar.
Chego
às mesmas ruas estreitas, direita, esquerda, em frente, direita. Lá continua o
velho coreto, a olhar-me imponente, como se me conhecesse a mim e ao meu
destino. Olhei à volta e encontrei as escadas, subi.
De
lá de cima via-se a vegetação à volta, densa, envolta por um nevoeiro que
parecia poder tocar-se.
De
entre essa nuvem branca surgiu uma sombra na noite, que se materializou ao meu
redor, sussurrou-me ao ouvido “Vem comigo”, e eu disse sim. Envolveu-me na sua
capa e levou-me, esquerda, frente, direita, esquerda, vento, árvores, perdi o
caminho.
“Onde
estamos?” – quis eu saber.
“Em
minha casa” A mesa já estava posta para os dois, não queria jantar, queria
perguntar-lhe tanta coisa, queria dizer-lhe tanta coisa, mas ele puxou-me uma
cadeira, sentei-me.
Satisfez-me
a curiosidade, deixou que o inundasse de perguntas. Calei-me então, e ganhei
coragem para lhe dizer: “Tens vindo visitar-me, aos meus sonhos.” “De dia sou
eu, de noite, estou contigo.”
E
estendi-lhe a mão, “Quero que me vejas, como eu te vi naquela noite.”
Segurou-me
a mão, gentilmente, apertou-a entre as suas mãos de fábula, e libertei a minha
alma, para que a visse, para que se visse como eu o via.
Quando
abri os olhos, vi que os seus estavam tristes. Que se passa?, perguntei. Não
devias querer estar comigo. Porquê? Tens apenas uma vida para viver, não a
eternidade de momentos para desperdiçar. E porque seria desperdício, estar
aqui, contigo? Lembras-te do que te disse? Apenas numa noite do ano estou
visível aos humanos… Eu sei, mas senti-te comigo nas outras noites, até durante
o dia… Apostaria que estavas perto… Estava perto, mas não te poderei nunca
tocar, apenas ver-te dormir, enquanto sonhas. Mas hoje não…
Lá
fora a chuva aumentou, batia forte nos vidros, podia imaginá-la a formar um
rio, um rio que nos renovaria.
E
assim ao som da chuva, a nossa pele se fez igual, as mãos, os braços, os lábios,
iguais, podiam tocar-se, sem medos, sem mais que o outro. E assim numa noite
amei como se um ano fosse, como apenas numa noite mágica o poderia fazer. Deixei
de ser eu, deixou de ser ele, na realidade não interessava, tudo éramos nós.
O
nascer do sol aproximava-se, percebeu. Trouxe-me um cálice e ofereceu-me. “Não
são lágrimas de feiticeira?” – Perguntei. Sorri. “Não, não quero prender-te
mais. Nunca mais.”
Era
quente, doce, mas tinha um toque amargo, bem lá no fundo, quase imperceptível,
mas que ficou a escorregar-me na garganta, tentando libertar-se do doce. “O que
é?”
“Chá
de Lethe” (*). Tocou-me docemente numa madeixa do cabelo, com um olhar de
saudade que me deixou confusa, beijou-me de novo e eu deixei-me ir, esqueci o
toque amargo do líquido que acabara de beber.
...
Tenho
acordado sobressaltada, os sonhos não me deixam. Não os entendo, voo pela
serra, mas não tenho asas, nem sequer corpo, voo e não chego a lugar nenhum,
limito-me a deambular, perdida nos céus da serra. Todos os dias sonho, todos os
dias o sonho me acorda. Antes sonhava que bebia um vinho rubro, o vidro
quebrava-se-me nas mãos, o líquido inundava o chão e eu fundia-me com ele, não
me afogava, apenas deixava de existir ali. Agora sonho com os céus da serra.
Sonho
em sobressalto, acordo e sinto um vazio que não sei tocar, a que não sei dar
nome.
O
meu caderno tem algumas folhas arrancadas. Não sei porquê. Talvez tenha lá
escrito os sonhos de outras noites, porque me parece que já estive neste sonho
antes.
...
Tenho
menos sonhos agora. As noites são mais calmas. Os dias também. Eu não.
Está
sol. O dia está bonito. Mas espero a noite. A lua é mais bonita, faz inveja ao
sol. A noite é silenciosa, posso sentar-me a ouvir. Oiço muitas coisas à noite,
muitas histórias, muitos murmúrios. Tento ouvir-me a mim mesma, há algo que
tento ouvir. Mas não sei o que é. Mais difícil encontrar, quando não se sabe o
que se procura.
...
A
lua está tão bonita hoje. Ali, no cimo da colina. Parece que dorme no seu
regaço. Junto à casa da colina. Sempre me fascinou, aquela casa, escondida lá
em cima. Não sei bem porquê. Um dia irei lá.
The full moon illuminates my path,
amidst a thin rain that leaves small marks on the road, as if to leave a trail
to my way back home. That I do not know if I'll want to find.
I arrive to the same narrow streets,
right, left, forward, right. There is still the old bandstand, looking at me,
imposing, as if he knew me and my destination. I looked around and found the
stairs, went up.
From the top I could see the vegetation
around, dense, surrounded by a fog that I seemed to be able to touch.
From the white cloud a shadow in the
night appeared, that materialized around me and whispered in my ear, "Come
with me", and I said yes. He wrapped me in his cloak and took me, left,
forward, right, left, wind, trees, I lost the way.
"Where
are we?" - I wanted to know.
"In my house." The table was
already set for them, I didn’t want dinner, I wanted to ask him so much, but he
pushed me a chair and I sat down.
He satisfied my curiosity, left me make
him lots of questions. Then I stoped, and I gathered the courage to tell him,
"You have come to visit me in my dreams." "By day I am me, in
the night, I am with you."
And I stretched out my hand, "I
want you to see me like I saw you that night."
He held my hand gently, squeezed it
between his fable hands, and freed my soul, for he saw her, so that he saw himself
the way I saw him.
When I opened my eyes I saw that their’s
were sad. What's
up, I asked. You should not want to be with me. Why? You only have one life to
live, not the eternity of time to waste. And why would it be wasteful, to be here with you? Remember what I told
you? Just one night of the year I'm visible to humans ... I know, but I felt
you with me on other nights, even during the day ... bet you were close ... I was close, but I can never touch you, just to see
you sleep, while you dream . But not today...
Outside, the rain increased, pounded the
windows, I could imagine it to forming a river, a river that would renew us.
And so, to the sound of rain, our skin
was made equal, hands, arms, lips, equal, we could touch without fear, no more existed
than us. And so, in one night I loved as if it were one year , as just in a
magical night I could do. I stopped being me, he was no longer him, in reality
did not matter, all was us.
The
sunrise approached, he realized. He brought me a cup and offered me. "Are
there tears of the witch?" - I asked. I smiled. "No, I don’t want to
hold you over. Never again. "
It was hot, sweet, but had a bitter touch,
deep down, almost imperceptible, but that was a slip in my throat, trying to
free up the candy. "What is it?"
"Tea of Lethe" (*). He touched
me sweetly in a lock of hair, eyes of longing that confused me, kissed me again
and I let myself go, forget the touch of bitter liquid that I had just drunk.
...
I startled awake, the dreams will not
let me sleep. Do not understand them, flying in the mountains, but I have no
wings, nor body, I fly and go nowhere, I just wander, lost in the skies of the
mountain. Every day I dream, the dream every wakes me up. Before I dreamed that
I drank red wine, the glass broke up in my hands, the liquid flooded the floor
and I blended it with me, I didn’t drown, just ceased to exist there. Now I dream of the
skies of the mountain.
Restless dreams, I wake up and I feel an
emptiness that I can not touch, do not know how to name.
My notebook has some plucked leaves. I
don’t know why. Maybe there I had written the dreams of other nights, because I
think I've had this dream before.
...
I
have less dreams now. Evenings are quieter. The days also. I am not.
It is sunlight. The day is
beautiful. But I hope for the night. The moon is more
beautiful, the sun is jealous. The night is quiet, I sit down to listen. I hear
many things at night, many stories, many murmurs. I try to listen to myself, there’s something I try to listen. But I
don’t know what is. More difficult to find, when you don’t know what you're
looking for.
...
The
moon is so beautiful today. There, at the top of the hill. It seems to be sleeping on it’s lap. Next to the house on
the hill. Always fascinated me, that house, hiddenup there. I'm not sure why.
One day I will go there.