Quero ficar aqui. Por um pouco. Espalhar a memória à minha volta, para não ter que folhear o álbum, e voltar atrás e à frente, a ligar as páginas.
Esperar que o Mundo venha ter comigo a saber se cabemos um no outro. Quando chegar deve querer saber onde pode sentar-se. Escolhe tu, hei-de dizer, que eu também não perguntei onde me querias. Vi um cantinho vazio, escolhi-o, sentei-me. Fui-me aconchegando, mudei-me aos poucos, primeiro a tralha de todos os dias, depois tudo o que parecia não ter lugar.
Gosto do canto. Duas paredes encontram-se num canto. Nos meios não cabe nada, por parecer que cabe tudo e todos se encaixarem lá.
E o Mundo vai puxar uma cadeira e sentar-se à minha frente e olhar-me nos olhos e de um movimento só, querer despir-me do que está a mais e querer vestir-me do que está a menos ou então vai dizer-me hoje vamos antes falar da filosofia, de porque é que a ameijoa vive numa concha e apanha boleia do mar e a águia voa para onde quer e depois pousa, e de qual queres ser, ou se nenhuma, ou se ameijoa com asas ou se águia que voa dentro de uma concha?
E hoje vou dizer-te não, não quero falar, quero olhar também para ti e despir-te devagar, e agasalhar-te se ficares com frio. E fechar os olhos e continuar a ver-te.
Amanhã pergunta-me outra vez, eu respondo-te.
Retirado do baú, escrito em Agosto de 2005
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Foto da web |
I want to stay in here. For a while. To spread the memory around me, so that I don't need to look through the photo album, and go back and forward, connecting the pages.
To wait that the World comes to meet me and inquire if we can fit within eachother. When he arrives he will probably want to know where he can seat. You choose, I will reply, I didn't ask where you wanted me either. I saw an empty space, choose it, sat there. I've snuggled in, moved bit by bit, first the everyday stuff, then all that seemed to have no place to be.
I like the corner. Two walls meet in a corner. In the middles nothing fits, because it seems that everything fits and everyone joins there.
And the World will pull a chair and seat in front of me and look me in the eyes and with a single movement, try to undress me of what is too much and to dress me with that which is short. Or he will tell me, lets instead talk about philosophy, about why the clam lives in a shel e gets a ride from the sea and the eagle flys to where she wants too e then lands, and which do you wanna be, or do you wanna be none, or a clam with wings or an eagle who flyes inside a shell?
And today I will tell you: no, I don't want to talk, I want to look at you too and undress you slowly, and wrap you if you get cold. And close my eyes and still see you.
Ask me again tomorrow, I will answer you.
Writen in August, 2005