Quem lê / Who's reading

"a escrita é a minha primeira morada de silêncio" |Al Berto

sábado, 24 de março de 2012

Ave (Nocturna) / Bird (of the Night)

Mulher-pássaro, Otto Stupakoff

O teu amor era uma criatura da noite.
Iludiu-me porque pediu para entrar, sem eu perceber que era esse o truque. Afastava-me dos espelhos, não sei se para que não o olhasse no reflexo, o que põe a nu a natureza da alma. Ou para que não visse as minhas faces brancas, pouco a pouco privadas de sangue.

Esqueceste-te da minha natureza de ave selvagem, não me basta voar, preciso lançar-me ao vazio, e depois subir o mais que conseguir.
Era inevitável perceber as grades, por mais que te esforçasses por as fazer parecer transparentes.

Sem mim não consegues voar, atiraste-me. Não pude evitar sorrir. Vi que me tornara num dos espelhos que tanto temias.
Ainda assim, não desististe. Os predadores não desistem. Ias continuar por perto. Por isso precisava de esquecer, esquecer o teu toque no meu pescoço…

Disparei uma bala de prata contra o meu peito. Deve ser suficiente. Se não for, cravo uma estaca no meu coração teimoso! Ficará um pouco mais desfeito, mas sobreviverá. Renascerá. Para as criaturas do dia. Para voar.

~~ *** ~~

Your love was a creature of the night.
He deceived me by asking permission to come in, I didn’t understand that was the trick. He would keep me away from mirrors, maybe so that I wouldn’t look at the reflexion, the one that exposes the nature of the soul. Or so so that I could not see my white face, bit by bit deprived of blood.

You forgot my wild bird nature, it is not enough for me to fly, I need to launch my self on the emptiness, and then go up as much as I can.
It was inevitable to understand the grids, no matter your effort to make them seem transparent.

Without me you can’t fly, you shot at me. I couldn’t held smiling. I saw that I’d becomed one the mirrors you feared so much.
Still, you didn’t give up. Predators never give up. You would stay around. So, I needed to forget, forget about your touch in my neck…

I shot a silver bullet against my chest. That should be enough. If it isn’t I’ll nail a stake to my stubborn heart! It will be a bit more shattered, but he will survive. Reborn. To the creatures of the day. To fly.

12 comentários:

  1. Excelente texto, minha amiga.
    Gostei imenso.
    Bom domingo. Beijos.

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  2. Lindo? Maravilhoso...

    Vou-te '(per)seguir' posso?

    até já.

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  3. Cativa-me a sua escrita, Isa.
    Como se, de alguma forma, intimamente, a [re]conhecesse - fala do que de melhor e pior encerra a viagem humana. E isso agrada-me de sobremaneira.
    Bem haja. Grata pela generosidade da partilha
    Mel

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  4. A libertação pode ser assim... dolorosa.
    :)

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  5. Isa, tenho passeado pelos teu blogues e gosto muito das tuas postagens...

    esse texto é ótimo, muito bonito :)

    beijos
    e boa semana pra ti

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  6. Um excelente e surpreendente texto!
    Muito bonito, gostei.
    Bjs

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  7. "Os predadores não desistem." É preciso estar sempre um passo a frente deles e a melhor forma é se conhecer.

    Seu texto é belíssimo.

    Beijinho.

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  8. You find the most beautiful images.

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  9. Como é ambígua a nossa relação com o amor! Como é ambíguo o coração da gente, não é mesmo? Adorei o texto, guria...

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  10. há predadores e há aves que apenas querem voar.

    um bom texto.

    beij

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  11. Uma mistura do sombrio e do solar, tal como a alma do poeta.


    Um beijo

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Um espaço para recortes que completem o álbum de instantâneos... Obrigada pela visita!
A space for clip to complete this snapshot album... Thank you for your visit!

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