Avisaram-me sobre a sala dos
espelhos, mas eu não quis ouvir. Há quem tenha saído de lá louco, disseram-me.
Eram as histórias da Casa do Terror, faziam parte do apelo, pensei eu.
Ao entrar, vi espelhos a toda a
volta, uns maiores que outros, dourados, prateados, de ferro forjado, de
madeira apenas, quase sem tinta, alguns. Estavam ali, eu no meio.
Olhei e vi-me, não o comum reflexo,
era eu e não era eu. Havia um eu em cada espelho.
Roupas diferentes, cabelo diferente,
cabeça erguida de forma diferente, sorriso mais ou menos aberto.
Um eu em cada espelho. Cada uma me
olhava, bem no fundo de mim, bem no fundo dela.
Quem são vocês, somos tu. Seríamos
tu.
E então apontaram-me os dedos
acusadores. Seríamos tu, quem poderias ter sido, somos quem não tiveste coragem
de ser. Não, não pode ser, tinham razão, a sala dos espelhos trazia-nos a
loucura. Cobarde, apontavam, cobarde, gritavam. Podias ter sido eu, se tivesses
ido por ali, dizia uma, por além dizia outra, se tivesses ficado quieta, outra
ainda…
Não, vocês não são eu! Gritei. Eu sou
eu. Sou todas as escolhas, quem eu não fui já não existe, nunca existiu, EU
escolhi que não existissem!
E então os espelhos calaram-se.
Percebi que estava liberta. Podia ir, os meus eus estavam em paz comigo.
Deixaram-me ir. Embora por vezes ainda me pareça que me sussurram aos ouvidos…:
Podias ter sido eu…
*-*-*-*
They
warned me about the hall of mirrors, but I didn’t listen. Some have gotten out
of there crazy, they told me. Those were
the stories of the House of Terror, were part of the appeal, I thought.
Upon
entering, I saw mirrors all around, some larger than others, gold, silver,
wrought iron, wood only, almost out of ink, some. They were there, me in the
middle.
I
looked and saw myself, not the common reflection, it was me and it wasn’t me. I
had one I on each mirror.
Different
clothes, different hair, head up differently, smile more or less open.
An I
in every mirror. Each one looked at me, deep inside of me, deep inside her.
Who
are you, we are you. We would be you.
And
then they pointed me with accusing fingers. We would be you, who you could've
been, who you had no courage to be. No, it couldn’t be, they were right, the
hall of mirrors brought us crazy. Coward, they pointed, coward, they shouted.
You could have been me, if you had gone that way, said one, that other way said
by another, if you had been quiet, yet another ...
No,
you are not me! I yelled. I am me. I'm all choices, who I have not been doesn't
exist, never existed, I chose that they do not exist!
And
then the mirrors were silent. I realized I was free. I could go, my selves were
at peace with me. They let me go. Although sometimes it still feels they
whisper in my ears ...: You could have been me ...