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"a escrita é a minha primeira morada de silêncio" |Al Berto

sábado, 20 de outubro de 2012

Quimeras (ou histórias de um faroleiro) / Chimeras (Or stories of a lighthouse keeper) -- # 1


Todos os dias ia à praia. Havia dias que percorria o areal de um extremo ao outro, seguindo o trilho molhado que a maré deixava. Outros dias subia à escarpa mais alta, aquela de onde se avistava toda a praia, todo o mar em frente.
À água não se aventurava, não sabia nadar.
Todos os dias ia visitar o mar.
Todos julgavam que cismava por não saber nadar, que por isso olhava a água, que os seus olhos eram de aventureiro com medo.
Mas ele saía todos os dias porque ouvia um canto que já ninguém ouvia. O canto da sereia… Saía todos os dias à procura dela, sabia que um dia a havia de encontrar ali, a dançar com as ondas do mar, ou a caminhar nas areias da praia, fundida com os humanos.
Foi já há muitos anos que ouviu a história. Foi o velho faroleiro que lha contou. Um dia estava a vigiar as águas em frente, e ouviu um canto de mulher, a voz mais linda que já havia ouvido. Das águas surgiu um rosto inimaginável, com olhos que até ao longe lhe penetravam na alma. Cabelos que dir-se-iam a extensão do mar, azuis, ondeantes.
Ainda antes de ela mergulhar, já o velho faroleiro sabia que era uma sereia, daquelas sobre quem avisavam aos marinheiros.
Todos chamavam o velho faroleiro de louco, mas ele sempre viu muita sabedoria nos seus olhos, por isso não tinha razões para considerar menos nas suas palavras.
E, assim, todos os dias ia até à praia. Um dia havia de encontrar ali a sua sereia.


(Setembro 2012)


Sagres, by Isa Lisboa
Everyday we went to the beach. Some days he was on the beach from one end to the other, following the trail left by the tide. Other days he would climb to the highest cliff, the one where he could see the whole beach, the all sea in front.
He didn’t venture himself to the water, he didn’t know how to swim.
Every day he would visit the sea.
Everyone thought he brooded for not knowing how to swim, that was why he watched the water, that his eyes were the ones of a scared adventurer.
But he went out every day because I heard a song that no one listened to any more. The siren song ... He went out every day looking for her, he knew that one day he would find  her there, dancing with the waves, or walking in the sand, fused with humans.
It was many years ago that he had heard the story. It was the old lighthouse keeper who told it to him. One day he was watching the waters in front, and he heard a woman singing, she had the most beautiful voice he had ever heard. From the waters appeared an unimaginable face, with eyes that even by far penetrated the soul. With hair that seemed the extent of the sea, blue, undulating.
Even before she dived, the old lighthouse keeper already knew it was a mermaid, those about who the sailors were warned about.
Everyone would call old lighthouse keeper crazy, but he always saw a lot of wisdom in his eyes, so he had no reason to believe less in his words.
And so every day he was going to the beach. One day he would find his mermaid.


(Setember 2012)



9 comentários:

  1. Ondas do mar...
    As suas areias...
    Encontrar a sereia...
    Adorei!
    E
    Voltarei!
    (não se esqueça do verde quente das algas, do azul fresco do céu e da baunilha do sol morno)

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  2. Isa!!!?... ;)

    adoro histórias dos "velhos lobos do mar", adoro :))
    aguardo ansiosa os próximos capítulos :)
    no fim tecerei as minhas considerações :))

    fascinam-me estes mistérios do Mar, dos amantes do Mar, do canto da sereia...

    beijo
    até logo.

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  3. ele lá teria as suas razões, aguardo a continuação.
    um bom fim de semana.
    um beijo

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  4. eu gosto de faróis

    e o faroleiro espera...


    um abraço, Isa

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  5. Adoro o mar, os faróis, e histórias com sereias...cá estarei para a continuação.
    Bjs

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  6. Estou encantada com o texto, volto para ler a outra parte...


    Bjos

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  7. Gostei do texto e da história, ainda no começo, pelo que percebi.
    Fico a aguardar os próximos capítulos.
    Isa, tem uma boa semana.
    Beijo.

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  8. adorei, a história em busca do desconhecido,

    que encanta, apaixona,

    escreves muito bem!

    Beijo

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