E foi numa
tarde de fim de Verão, quando os dias ainda são quentes, mas a lua chega mais
cedo; foi numa tarde de Verão que a viu.
Estava
sentada na praia, a olhar o mar, o cabelo não era nem longo nem azul, como o da
sereia que lhe povoava a imaginação. Mas, ainda assim, sabia que era ela.
Lembrou-se do
velho faroleiro, e pediu-lhe emprestada um pouco da sua coragem. E assim se
aproximou dela e disse-lhe olhos nos olhos – sei que és uma sereia, os teus
cabelos não são azuis, mas ondeiam como o mar.
E ela sorriu.
“Eu não sou
sereia, mas tenho em mim as memórias de uma que percorreu este mar.”
“Conta-me”,
pediu ele.
A minha avó.
Foi sereia, em tempos. Quando era da minha idade. Ao entrar na água, o cabelo
ficava azul. Toda a gente achava estranho, todos a evitavam, não entendiam
metamorfoses. Por isso costumava nadar sozinha, flutuava nas ondas, enquanto
imaginava os mundos que se achariam para lá do horizonte. Todos lhe diziam que
para lá do horizonte não havia nada, mas ela ouvia o chamamento do mar.
Houve um faroleiro
que acreditou nela, porque sabia que os navios que orientava vinham do
horizonte. Era ele que a chamava de sereia, dizia que era por isso que o seu
cabelo se fundia com o mar.”
(Continua)
Pegadas, by Isa Lisboa |
And it was on an afternoon in late summer, when the
days are still warm but the moon comes early. It was on a summer afternoon that
he saw her.
She was sitting on the beach looking at the sea, her
hair was neither long nor blue, like the mermaid who lived in his imagination. But
still, he knew it was her.
He remembered the old lighthouse keeper, and borrowed
a bit of his courage. And so he approached her and told her in the eye - I know
you're a mermaid, your hair is not blue, but it has waves like the ones in the
sea.
And she smiled.
"I'm not a mermaid, but I have in me the memories
of one that swam in this sea."
"Tell me," he asked.
My grandmother. She was a mermaid, once. When she was
my age. When entering the water, her hair turned blue. Everyone felt weird, all
avoided her, didn’t understand metamorphoses. So she used to swim alone,
floating on the waves, while imagining what worlds could be found beyond the
horizon. Everyone told her that there was nothing on the horizon, but she heard
the calling of the sea.
There was a lighthouse keeper who believed her,
because he knew that the ships he guided came from the horizon. It was he who said
she was a mermaid, he would say that was why her hair blended with the sea.
"
Arte delicioso texto. Sinto cores pasteis em minha mente. Belo esmero queridíssima ... perfeito! Beijo
ResponderEliminarmuito interessante.
ResponderEliminaraguardo a continuação
gostei da foto.
beij
O encontro faz-se mais preciso!
ResponderEliminarNem a metamorfose foi necessária para ser reconhecida...
Estou a gostar!
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