Quem lê / Who's reading

"a escrita é a minha primeira morada de silêncio" |Al Berto

sábado, 7 de julho de 2012

O palhaço malabarista / The juggler clown (I)


El mundo al revés_Sergis blog
-- I --


O palhaço malabarista coloca a maquilhagem passo a passo.
Tantas vezes ensaiou este momento, sentia medo do palco. Já o enfrentara tantas vezes antes, conseguia palmas, conseguia suspiros de surpresa. Com o equilíbrio difícil dos objectos em movimento.
Tinhas palmas, mas queria risos.
Olha as cores espalhadas à sua frente, inseguro quanto à quantidade de branco que utilizou e ao tom de vermelho que escolheu para o enorme sorriso.
Alberto deixava-o assistir aos seus ensaios, mas nunca o tinha acompanhado neste processo de transformação em que um homem comum, se torna numa personagem que consegue por vezes arrancar risos aos mais sisudos.
Era um bom amigo, o Alberto. Clandestinamente, ensinava-lhe alguns truques da sua arte. Marco não sabia das horas de treino que passava a aprender a ser palhaço. O dono do circo não acreditava que o malabarista poderia ser outra coisa que não malabarista. “Não te safas mal com os malabares, faz o que sabes fazer, e não sonhes mais.”
Mas o malabarista atrevia-se a sonhar mais alto que a sua própria altura. (*)
E o seu mestre encorajava-o: “O treino fez de ti um bom malabarista, rapaz. Mas a tua alma é de palhaço. E é a nossa alma que nos faz caminhar, as pernas só tornam o andar mais rápido.


(*) “Sou do tamanho dos meus sonhos e não do tamanho da minha altura.” Fernando Pessoa


-.-.-.-.-.-.-.


The juggler clown puts on the makeup step by step.
He has rehearsed this moment so many times, he was afraid of the stage. He had already faced it so many times before, he had applause, had gasps of surprise. Achieved with the difficult balance of moving objects.
He had applause, but he wanted to ear laughs.
Looking at the colours spread out before him, unsure as to the amount of white  to use and about which red colour to choose for the big smile.
Alberto let ​​him attend his trials, but he never had accompanied this transformation process, in which an ordinary man becomes a character that can sometimes make the grim laugh.
He was a good friend, Alberto. Clandestinely, he taught him some tricks of his art. Marco did not know of his hours of training, learning to be a clown. The ringmaster could not believe that the juggler could be something other than a juggler. "Your not too bad with juggling, do you know how to do, and don’t dream anymore."
But the juggler dared to dream higher than his own height. (*)
And his teacher encouraged him: "The training has made you a good juggler, boy. But your soul is one of a clown. It is our soul that makes us move, our legs only helps us go faster.”

(*) “I’m the size of my dreams and not the size of my height.” Fernando Pessoa 



3 comentários:

  1. "E é a nossa alma que nos faz caminhar, as pernas só tornam o andar mais rápido."

    Que bonito isso, Isa! O querer faz toda a diferença...

    Beijinhos e bom fim de semana.

    ResponderEliminar
  2. Os sonhos comandam a vida...
    Belíssimo texto.
    Gostei muito.
    Beijo, minha querida amiga Isa.

    ResponderEliminar

Um espaço para recortes que completem o álbum de instantâneos... Obrigada pela visita!
A space for clip to complete this snapshot album... Thank you for your visit!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Mensagens populares / Popular messages