Quem lê / Who's reading

"a escrita é a minha primeira morada de silêncio" |Al Berto

sábado, 26 de maio de 2012

Em tuas margens descansei/ On your banks I’ve rested

Foto da web: butterflywoman_Riannolittlebit

Deixaste-me entrar, ocupei um lugar no teu coração. Também te deixei entrar, tinha uma assoalhada apenas para ti. As paredes foram pintadas de fresco.
A janela dava para o jardim. Não precisava de a abrir, bastava-me o teu perfume, que me envolvia, como se fora ópio.
E do outro lado do jardim, um lago, em tuas margens descansei. As águas eram calmas, e eram revoltas, e não eram nem uma coisa nem outra, e tudo isto fazia sentido. Logo o percebermos, o (des)sentido de tudo, de nós, de estarmos ali. Percebemo-nos, desde o dia em que vi aquelas águas reflectidas no fundo dos teus olhos.

Fechámos a porta. Sem a dor de deitar fora a chave. Custa sempre partir, mas quando sabemos para onde vamos, é mais fácil carregar as malas.
Uma parte de ti continua a viver cá, posso invocar os momentos que ficaram, ao passar as mãos pelo cimento da memória.
 Uma parte de ti continua cá, mas outra voou de mim. Já não pertencia aqui.

-.-.-.-.-.-.-

You’ve let me in, I’ve occupied a place in your heart. I also left you in, had a room just for you. The walls were freshly painted.
The window overlooked the garden. I didn’t need to open it, your perfume was enough for me, it involved me, as if it were opium.
And on the other side of the garden, a lake, in your banks I’ve rested. The waters were calm and they were restless, and were neither one thing nor the other, and it all made ​​sense. From the beginning, we realized the (no) sense of all, of us, of being there. We understood ourselves, since the day I saw those waters reflected in the depth of your eyes.

We closed the door. Without the pain of throwing away the key. It’s always hard to go away, but when we know where we’re going, it's easier to carry the bags.
A part of you still lives here, I can invoke the moments that were, go through the concrete memory.
  A part of you is still here, but another flew from me. Did not belong here anymore.

25 comentários:

  1. Mesmo com a partida, há momentos que vale a pena recordar.
    Magnífico texto, gostei muito.
    Beijo, querida amiga Isa.

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    1. Quando as memórias são boas, a recordação não é sinónimo de dor...
      Obrigada pelas palavras, Nilson!

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  2. Por vezes mesmos com as mais altas muralhas, tentamos cuidar do nosso reino. Queremos que ele fique sempre invulnerável. Só que á medida da descoberta baixamos as defesas e deixamos entrar o mensageiro. Apreciamos sua forma dócil e meiga de interagir. e quando damos conta, já alteramos tudo a volta... e Feridos voltamos a fazer tudo de novo... Gostei!

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    1. Nenhuma muralha fica de pé para sempre, nem as que construímos para nós mesmos...

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  3. Um quê de nostalgia e simultânea determinação num texto muito belo! Só não sei se é sempre mais fácil carregar as malas quando sabemos para onde vamos. Mas talvez seja!

    Bj amigo

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    1. Acho que é mais fácil, sim, Daniel. Pelo menos, a dúvida e a mágoa não fazem parte da bagagem... E essas são algo de muito pesado para levar connosco na mala...

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  4. Por vezes é a unica coisa que nos resta, fechar a porta e carregar as malas, e , conseguimos faze-lo quando percebemos que só assim podemos seguir em frente.

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    1. É uma verdade em muitas áreas da nossa vida - se não em todas!

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  5. Por vezes é preciso partir... e deixar partir...
    que restem as melhores lembranças.

    Bjos

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    1. Sim, é o que acho. As boas memórias são de manter, e de preservar.

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  6. Belo texto...Espectacular....
    Cumprimentos

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  7. às vezes até sem malas, guardamos muito

    ou tanto
    ou uma parte

    a outra fica mas também vai

    bonito o seu texto

    um abraço

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    1. Verdade, até porque o que mais importa não precisa ser guardado numa mala...!
      Obrigada, Manuela! Beijos

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  8. http://palcopiniao.blogspot.pt/search/label/C%C3%82MARA%20MUNICIPAL%20DE%20COIMBRA%20URBANISMO

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  9. há partidas
    há chegadas
    há memórias
    há um numero imenso de sentimentos

    muito belo
    além de comovente

    um beij

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    1. Entre a chegada e a partida abrigam-se as memórias, e desde que sejam boas, a viagem vale a pena!
      Obrigada pela palavras, Piedade!
      Beijos

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  10. á uma parte que nunca nos pertence,
    depois há outra eterna, ninguém nos pode tirar a memoria
    (baú dos segredos!)

    gostei muito.

    beijo

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    1. Sim, assim como há partes que são apenas nossas, também há aquelas que não nos pertencem...
      Obrigada, Maria João!

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  11. Quando se fecha uma porta, abre-se sempre uma janela e aí se deixa ao vento as lembranças do sentir. Lindo texto com aroma de saudade. Beijos

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    1. É preciso é não fechar a porta com estrondo! :)
      Beijos, obrigada!

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  12. Valeu o durante, certo?
    Muito bem escrito!
    Bjs

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    1. Há momentos na vida que valem não tanto pelo seu início ou pelo seu fim, mas mais pelo durante...!
      Obrigada, beijos!

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Um espaço para recortes que completem o álbum de instantâneos... Obrigada pela visita!
A space for clip to complete this snapshot album... Thank you for your visit!

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