Arrancaste tudo dos armários e esvaziaste as gavetas no chão do teu quarto.
Sentaste-te no meio e olhaste à tua volta a saber quantas recordações tinhas.
Viste umas calças rasgadas nos joelhos e enquanto lhe pegavas com os teus olhos sonhadores eu fui percorrendo as cartas espalhadas, os papéis soltos, tentando encontrar um vestígio no meio da barafunda. Parecia que nada tinha restado, que não tinha passado, então como posso ter presente, que já não ambiciono futuro?
Comecei a sentir uma dor fina a romper-me os ossos, quando vi um molhe de fotografias, deviam ser de quando eras feliz, estavam dobradas nas pontas, de tanto as veres. E bem por baixo, o livro que eu te dei, naquele aniversário.
Estavas a contar-me que um dia viste um coelho branco que te parecia estar atrasado, e por isso foste atrás dele, talvez ele te mostrasse a entrada do túnel. Querias tanto ver a Rainha de Espadas que nem reparaste que ele não tinha relógio. E foi a seguir um coelho atrasado que não sabe que horas são, que tropeçaste e rasgaste as calças. Por isso as guardaste, como guardas todos os teus sonhos.
Fui seguindo o percurso das tuas mãos a ver onde me irias pôr e quando viste o livro, abriste-o e perguntaste-me, lembras-te?
Acenei. E disto, lembras-te? Na página dois, uma flor seca, aquela que tu me deste e eu não quis.
Dá-me-a outra vez, nem que seja só hoje, eu faço de conta que não sei quando acaba o dia.
Dou, se me inventares um final diferente para o livro. Sempre to pedi, lembras-te? Sempre soube que sabias qual era o outro final. Eu ria-me, dizia-te que só o autor sabe qual é o final e que os outros finais ficaram órfãos Mas agora não, já descobri qual é o outro final. Posso sentar.me ao pé de ti? Vou ler-to. Eu sei que também vais gostar.
Retirado do baú, escrito em 19.Janeiro.2006
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You took everything out of the closets and emptyed all the drawers in your bedroom floor.
You sat in the middle and looked around you, understanding how many memories you had.
You saw some old jeans ripped off in the knees and while you hold them with your dreamy eyes, I went through the spreaded letters, the loose papers, trying to find a trace in the middle of the mess. It seemed that nothing was left, that I had no past, so how can I have a present, me who doesn't long for a future any more?
I began feeling a small pain piercing through my bones, when I saw a pile of photos, they must be of when you where happy, they were folded in the corners, so many times you looked at them. And rigth underneath, the book I gave you in that aniversary.
You were telling me about the day you saw a white rabbit who seemed to be late, and so you went after him, maybe he would show you the entrance to the tunnel. You so wanted to see the Queen os Swords that you didn't even noticed he had no watch. And it was then, following a late rabbit that doesn't know the time, that you've ripped off your jeans. That's why you've kept them, the same way you keep all your dreams.
I continued following your hands, seeing where you would put me and when you saw the book, you've opened it e asked me, do you remember?
I nodded. And this, do you remember? In page two, a dry flower, the one you gave me and I didn't want.
Give it to me again, just for today if you want to, I'll pretend I don't know when the day ends.
I will, if you invent me a different ending for the book. I've allways asked that to you, remember? I've always known you knew the other end. I would laugh, I used to tell you only the author knows the end and all the other ends were orphans. But not know, I've figured out the other end. Can I seat, here next to you? I will read it to you. I'm sure you'll like it.
Writen in 19.Janeiro.2006