Quem lê / Who's reading

"a escrita é a minha primeira morada de silêncio" |Al Berto

sábado, 25 de julho de 2015

Dói-me esta capa

Foto: Vadim Stein

Hoje dói-me esta capa, esta capa que já não sei se é dura como aço ou frágil como seda.
Hoje dói-me, como se esta dor fossem encontrões da alma a tentar arranjar mais espaço, quem sabe a tentar sair.
Se ao menos eu soubesse como me alargar ou sequer como foi que a aprisionei…
Não me aprisionaste, parece-me ouvi-la dizer-me, fui eu que escolhi este invólcuro, se tento sair é apenas porque é a hora.
Hora de quê? Pergunto-lhe.
Hora de me veres.


domingo, 19 de julho de 2015

Dois homens e uma corda

Foto: Segurança_Luísa Alvim

Dois homens encontraram uma corda no meio da estrada.
Um viu-a primeiro, um segundo primeiro. Outro agarrou-a primeiro, um segundo primeiro.
Ambos a sentiram sua, dúvidas não havia.
Agora só a força poderia decidir a contenda, com força a puxaram, um de cada lado, à força ela não cedia. À força do outro, nenhum cedeu. Só ao cansaço, nem um segundo antes, nem um segundo depois.
A extremidade ainda comprimida nas suas mãos.
Ouviram então no meio do cansaço uma voz. Era um menino que os chamava.
“Para que precisam dessa corda?” – perguntou.
Olharam um para o outro, um não sabia dizer, o outro também não.
Ao segundo seguinte, ambos a largaram. “Não a queremos mais”, disse um. “Podes ficar com ela”, disse outro.
Então o menino pegou na corda, por ambas as extremidades e levou-a.
Com um grande sorriso, exibiu-a aos amigos e gritou: “Bora saltar à corda?!?”


sábado, 11 de julho de 2015

O azul

Acordei e logo me lembrei do meu céu, fiquei ansiosa por ir à janela contemplar o belo azul. Ainda estava lá, preparei-me para uma caminhada pelo mar, o meu outro azul.
Ao guiar, a estrada parecia-me estranha, o alcatrão não parecia o mesmo, estava firme como sempre, mas parecia já não ter a mesma cor de antes… Não é que me queixasse, aquele preto de alcatrão não é tão belo como o meu azul, não me fazia falta.
Chego à praia e lá estava o meu azul, e a sensação da areia nos pés era também a mesma, mas algo estava diferente.
Volto à estrada, chego à cidade, as ruas, os prédios no mesmo sítio, acho que até as mesmas pessoas.
Mas lá continuava ainda algo diferente.
Procurei a entrada do edifício que me esperava, continuava azul, aquietei-me.
Ainda assim, aquela sensação não me abandonava, o dia passou e ela lá comigo.
Precisava relaxar um pouco, fui de novo até à praia, era hora do pôr-do-sol.
Cheguei mesmo a tempo.
Sentei-me no meu rochedo favorito e procurei o sol no horizonte.
Mas não distinguia o sol, muito menos o horizonte.
Percebi então o que estava diferente naquele dia. E entendi também quem tanto defende o amarelo. (*)


(*) Ditado popular: “Se todos gostassem do azul, que seria do amarelo?”


Foto: Karl Taylor

Estou a promover um pequeno inquérito sobre o blog. Peço-vos 2 minutos vossos para visitar este link e preenchê-lo. Ajudem-me a melhorar este espaço :)

Obrigada!



sábado, 4 de julho de 2015

Ghosts

Arte: ĹÁŤĔŃČŶ ÁŤ ĞÁMĔ, por Carlos Saramago

Let go of the past
Old ghosts will never
Fill your soul.
Don’t believe them
When they whisper promises;
They will feed on what’s left
And when all is hallow
They will take you
For their home
You won’t even notice
Your heart going cold
Then one day
It will stop
And you will become a ghost
Too…
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