Dizem que a chuva já se foi, então
porque a sinto em mim, escorrendo pela pele, pelos cabelos, então porque a
sinto a entranhar-se nos ossos, então porque sinto um trovão a ribombar cá
dentro?
Porque sinto a água a misturar-se no
pó, lentamente a formar lama em torno de mim, uma camada protectora de lama.
Quando vier o sol, secará. E então
tornar-me-ei estátua.
Presa dentro de mim mesma, a ver a
vida à minha volta, a passar por mim, a ver os Outros a caminhar por ali, a
passar sem me olharem sequer. Outros, alguns a pararem apenas para uma
recordação. Uma foto com aquela que um dia Foi.
Por quanto tempo será que me vou
debater com o invólucro? Será que me vou debater sequer? Será que este outro
invólucro está tão cheio quanto eu o vejo?
Será que esta chuva é outra? A da
rua? A da rua da estátua daquela que uma dia foi?
# Monólogos da Desalinhada #
Isa Lisboa
Um texto perturbador. Deve ser horrível ficar emparedado em vida. Pode ser que a chuva continue a lavar todo o pó e quando o sol brilhar, em vez de estátua, deixá-la-á brilhante e cheia de vida.
ResponderEliminarAbraço, um doce domingo
Ruthia d'O Berço do Mundo
Tudo um dia foi, até a estátua
ResponderEliminarQue vimos na praça.
Por algo são relembradas.
Talvez, seja preciso atravessar a chuva
E vencer as tempestades
Para nunca ser.
Beijinho
Gosto como exercício poético :)... mas precisamos de esconder as máscaras :)
ResponderEliminarbeijinho amigo
Profundo este texto. Quando nos preocupamos com o que está por baixo do invólucro tornamos o invólucro mais luminoso :)
ResponderEliminarbjs e boa semana
E esperemos que o invólucro não se rasgue antes do tempo...
ResponderEliminarBjs
texto profundo e enigmático, por vezes (breves) somos estátuas ambulantes...
ResponderEliminar:)
será, como será o coração de uma estátua?
ResponderEliminarum abraço, Isa