Quem lê / Who's reading

"a escrita é a minha primeira morada de silêncio" |Al Berto

sábado, 6 de abril de 2013

(Des)Esperança / (Un)Hope

Azam Ali – I’m a strange in this world


O tempo para ser ela mesma era sempre tão pouco! Passava sempre tão depressa aquele pedaço que tinha.
Todo o resto do tempo era para os carnavais de que já não conseguia fugir.
Durante muito tempo tentou, remou contra a maré, teimosa, solitária.
Um dia sentiu uma dor vinda de dentro, não era no coração, era em todo o lado, é assim quando nos dói a alma! Uma dor tão forte que a derrubou, caiu de joelhos, caiu o corpo todo de seguida.
Sentiu as lágrimas a caírem, eram lágrimas de cristal, pareciam, afinal eram apenas de vidro, ao caírem no chão transformavam-se em pedaços finos de matéria.
Apanhou-os em concha nas mãos, viu o seu brilho, viu neles reflectida a inevitabilidade.
Com eles fez as suas máscaras, nunca podemos usar só uma, muitos são os carnavais.
Usa-as sem orgulho, mas com resignação. Um dia todos aceitam que não escolhem o seu destino.
Mas reserva sempre um momento para as tirar, é curto o tempo, mas é dela, ainda é ela, naquele pedaço de tempo.
À noite, quando vai dormir, deixa as máscaras longe do quarto, no bengaleiro da entrada, é outro momento em que é livre.
Já percebeu que quem adormeceu com elas… nunca mais conseguiu tirá-las.
São de vidro… tem uma ténue esperança, ainda, de que um dia se partam, pó de vidro novamente…

***

The time to be herself was always so little! It always went by so quickly that piece she had.
The rest of the time was for the carnivals that she could no longer escape.
For a long time she tried, paddled against the tide, stubborn, lonely.
One day she felt a pain coming from inside, it was not in the heart, it was everywhere, so it is when the soul hurts! A pain so strong it knocked her, she dropped to her knees, her whole body dropped then.
She felt the tears fall, they were crystal tears, it seemed, but after all they were only glass, when they fell to the ground, they turned into fine pieces of matter.
She caught them in cupped hands; saw how they shined and how they reflected the inevitability.
With it she made ​​her masks, we can never wear just one, there are so many carnivals.
She wears them without pride, but with resignation. One day everyone accepts they can not choose one’s fate.
But she always reserve a time to take them out, time is short, but it her’s, she is still hersel, at that piece of time.
At night when she goes to sleep, she lets the masks away from the bedroom, at the cloakroom at the entrance, is another moment when she is free.
She has realized that those who slept with them ... never managed to get them out.
They are made of glass... she has a faint hope, still, that one day they breack, powdered glass again ...

8 comentários:

  1. Isa,
    Profundamente belo e intenso!
    Máscaras há muitas e, enquanto há consciência que elas existem, ainda podem ser retiradas antes de dormir. O pior acontece quando já nem se nota que a pele não é sua...
    Adorei!

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  2. Olá Isa,
    Temos de ter tempo sempre para nós. Prefiro sem máscaras....mas reconheço que são precisas, "tantos são os carnavais".

    Beijinho

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  3. São tantas as máscaras que somos obrigados a usar pela vida fora, e estou a chegar á conclusão que o carnaval está sendo o ano inteiro! e eu que detesto máscaras!
    Bjs

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  4. Se nos aceitassem como somos de verdade, não precisaríamos das máscaras...

    Mas um excelente texto, Isa.

    Beijo.

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  5. e no bengaleiro da entrada,

    as máscaras noctívagas talvez acordem, troquem de lugar

    e depois somos nós mais esperançados, quem sabe, mais cristalinos

    eu, também tenho um bengaleiro secreto, Isa

    um abraço

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  6. Quem nunca usou uma máscara que atire a primeira pedra...
    Excelente texto, gostei muito.
    Um beijo, querida amiga Isa.

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  7. Temos tantas vezes de ser
    Quem não somos,
    Mas sós, apenas sós… somos totalmente visíveis, a nós.

    Gostei muito, mesmo.

    Beijinho

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