Rokia Traoré – Laidu
No próximo dia 13 o Instantâneos a
Preto e Branco faz dois anos. Terei muito gosto em vos receber cá a todos,
deixarei cá uma palavrinhas diferentes.
E agora que recordo um início, ou
inícios, volto a um dos primeiros textos que aqui publiquei, vindo de um dos meus
caderninhos. E porque escolhi este…? Não sei, amanhã perguntem-me outra vez!
........
Quero ficar aqui. Por um pouco. Espalhar a memória à
minha volta, para não ter que folhear o álbum, e voltar atrás e à frente, a
ligar as páginas.
Esperar que o Mundo venha ter comigo a saber se cabemos
um no outro. Quando chegar deve querer saber onde pode sentar-se. Escolhe tu,
hei-de dizer, que eu também não perguntei onde me querias. Vi um cantinho
vazio, escolhi-o, sentei-me. Fui-me aconchegando, mudei-me aos poucos, primeiro
a tralha de todos os dias, depois tudo o que parecia não ter lugar.
Gosto do canto. Duas paredes encontram-se num canto. Nos
meios não cabe nada, por parecer que cabe tudo e todos se encaixarem lá.
E o Mundo vai puxar uma cadeira e sentar-se à minha
frente e olhar-me nos olhos e de um movimento só, querer despir-me do que está
a mais e querer vestir-me do que está a menos ou então vai dizer-me hoje vamos
antes falar da filosofia, de porque é que a ameijoa vive numa concha e apanha
boleia do mar e a águia voa para onde quer e depois pousa, e de qual queres
ser, ou se nenhuma, ou se ameijoa com asas ou se águia que voa dentro de uma
concha?
E hoje vou dizer-te não, não quero falar, quero olhar
também para ti e despir-te devagar, e agasalhar-te se ficares com frio. E
fechar os olhos e continuar a ver-te.
Amanhã pergunta-me outra vez, eu respondo-te.
Retirado do baú, escrito em 2005
***
On
Feb. 13, the Instantâneos a Preto e Branco will be two years old. I will be delighted
to welcome you all here; I will leave here some different words.
And
now as I remember a beginning, or beginnings, I go back to one of the first
texts I published here, coming from one of my notebooks. And I chose this because
...? I don’t , ask again me tomorrow!
.....
I want to
stay in here. For a while. To spread the memory around me, so that I don't need
to look through the photo album, and go back and forward, connecting the pages.
To wait that
the World comes to meet me and inquire if we can fit within eachother. When he
arrives he will probably want to know where he can seat. You choose, I will
reply, I didn't ask where you wanted me either. I saw an empty space, choose
it, sat there. I've snuggled in, moved bit by bit, first the everyday stuff,
then all that seemed to have no place to be.
I like the
corner. Two walls meet in a corner. In the middles nothing fits, because it
seems that everything fits and everyone joins there.
And the
World will pull a chair and seat in front of me and look me in the eyes and
with a single movement, try to undress me of what is too much and to dress me
with that which is short. Or he will tell me, lets instead talk about philosophy,
about why the clam lives in a shel e gets a ride from the sea and the eagle
flys to where she wants too e then lands, and which do you wanna be, or do you
wanna be none, or a clam with wings or an eagle who flyes inside a shell?
And today I
will tell you: no, I don't want to talk, I want to look at you too and undress
you slowly, and wrap you if you get cold. And close my eyes and still see you.
Ask me again
tomorrow, I will answer you.
Written in 2005
Não te vou perguntar porquê, limito-me a dizer que ainda bem que foi este o escolhido, nunca o tinha lido e adorei!
ResponderEliminarVou tentar estar por cá dia 13, ver se não esqueço...
Bjs
O tempo vai passando quase sem darmos por isso...
ResponderEliminarParabéns pelo segundo aniversário.
Isa, minha querida amiga, tem um bom resto de domingo e uma boa semana.
Beijos.
E o mundo vai sentar-se à minha frente, :)
ResponderEliminarAdorei este texto.
Parabéns antecipados já que dia 13 não vou poder cá vir.
Beijinhos
queremos ser a águia e a concha e a cadeira no canto da junção de duas paredes
ResponderEliminare o mundo tão à nossa frente
gostei do seu texto, Isa
Se somos, concha não vemos o mundo, nem o mundo nos vê
ResponderEliminarMas se somos aguia somos imponentes, fortes, mas temos de ser demais.
Por isso amanha pergunta-me outra vez…se quero fugir ou desafiar ;)
Muito original, teu texto.
gostei muito,mesmo.
Talvez o tenhas escolhido, porque já ganhas-te asas…
Parabéns mais uma vez !
Beijinho