Só faltava colocar a estrela no cimo da árvore - entendeu
Raquel, em antecipação. Pegou-lhe delicadamente e, com um certo toque de
cerimónia, colocou-a no seu sítio. Ali ela brilhava, imponente, todos os
Natais.
Fazer a árvore de Natal era um ritual anual que a fazia vibrar
desde que se lembrava. A mistura de cores por sobre o verde, o brilho das
luzes, a escolha do local onde colocar as bolas de Natal, tudo isso era um
pedaço de magia a acontecer. A estrela dava o toque final. Raquel sentia, que,
ao colocá-la no cimo da árvore, de alguma forma dava luz ao Mundo, pelo menos
um pouquinho. Quando era mais pequenina, não sentia assim esse gesto. Agora,
que já tinha passado da idade de acreditar no Pai Natal e que já entendia muito
do que via nos noticiários, percebia mais claramente o sentido da frase
"Quem dera fosse Natal todos os dias."
Sabia que nem todas as crianças recebiam presentes no Natal ou
tinham a mesa cheia de doces e coisas boas no Natal. Talvez nem todas pudessem
fazer uma árvore como a dela, com materiais brilhantes, coloridos e perfeitos.
Imaginou como seria se o seu Natal fosse assim.
Sentiria falta dos presentes, tinha que o confessar. Mas
sentiria mais falta da antecipação, daquela que se tem quando se olha para o
embrulho e se tenta adivinha o que está lá dentro. Também sentiria falta dos
chocolates embrulhados em papel natalício e dos doces que a mãe faz. mas
lembrou-se das tardes em que a família se reúne, ao domingo, com um pão-de-ló e
uma caneca de leite quente. Se fosse esse o miminho da noite de Natal, ela
também se sentiria feliz. Porque nessas tardes, o que realmente importava não
era o bolo, era a sua família, reunida à sua volta.
Até a árvore, de que tanto gostava, poderia ter que a enfeitar
com pedaços de papel branco. Sabia que a veria sempre com cor.
Porque o Natal existia onde o Menino queria que ele existisse:
no coração dela!
E de cada vez que ela colocava a estrela no cimo da árvore, ele
enviava um pouco de Natal, de Amor e de Luz, para todos os corações prontos a
recebê-los.
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