Quem lê / Who's reading

"a escrita é a minha primeira morada de silêncio" |Al Berto

sábado, 30 de agosto de 2014

Nadando

Sempre soube nadar só contra a corrente. Se me deixasse ir, afogava-me nas águas que levavam aonde eu já sabia e a calmaria das águas haveria de me engolir até que nada mais restasse.
Não chegaria nunca a terra, seria uma nova antártica. Mas de mim nem lenda ficaria, a história só lembra os derrotados quando há um herói que proclama vitória.
Nem eu o quereria, que me cantasse.
Se a corrente me vencesse os braços, apenas quereria ser esquecida. E esquecer.
A memória do que fui, sabê-la, tê-la presente, seria como afogar-me de novo. A cada segundo que passasse.
E é por isso que não consigo parar de nadar…!

Autor não identificado

sábado, 23 de agosto de 2014

Dual

Foto: Autor não identificado

Serás a última peça do puzzle
Há tanto tempo por terminar;
Ou serás antes a primeira
Daquele que ainda não comecei?

Qual das faces da lua
Me mostras?
Não te reconheço nem
Quarto-minguante
Nem crescente.
Serás talvez lua cheia
E eu lua nova.

Serás meu Yin
Ou meu Yang?
Saberás que é dos dois
Que preciso...?


Este poema foi publicado originalmente aqui, no Tubo de Ensaio - Laboratório de Artes, blog em que participo regularmente

sábado, 16 de agosto de 2014

Chuva


É quase Verão e as nuvens abriram-se em rios de gotas.


Tiras-me para dança na chuva?

Arte: Lovers_Darwin Bell

sábado, 9 de agosto de 2014

Caixa alguma

Foto: Autor não identificado


Não caibo nessa caixa. Dou-te um pré-aviso, ainda que sabendo que não me ouves.
Não ouves o que te digo e por isso vais tentar colocar-me lá dentro, vais até ignorar o meu esbracejar defensivo. Acharás que podes mais que a física e que consegues colocar-me lá dentro. Tentarás fechar a tampa, usarás a força se for preciso. Mas a tampa não vai fechar.
E, porque acharás sempre que encontrarás um lugar onde me colocar, irás buscar outras caixas. E o périplo de novo se iniciará. Hei-de sempre resistir e tu hás-de sempre tentar. Talvez sejamos apenas dois teimosos, que insistem em teimar, apesar das evidências.
Mas eu não caibo nessa caixa. Por isso não posso deixar-te. E não caibo em nenhuma. Pelo menos não caibo, certamente, em nenhuma dessas que insistes em fazer-me ajustar.

# Monólogos da Desalinhada #


sábado, 2 de agosto de 2014

Das tuas janelas

Foto: Janelas de Lisboa, Mário Andrade


Do alto das tuas janelas
Oiço o pregão
Que já foi dito
Da fava rica
E da sardinha para o almoço
Ainda as desgarradas
Fados improvisados
Cantados sem pedido.
Ao longe o som do fogo
Que queimou os medos
Em tuas praças.
Medo
Do poder e dos deuses desconhecidos.
Ainda o som da terra a abrir-se
Do novo futuro
Que das trevas havia de nascer.
Sinto o cheiro a canela e pimenta
Misturado com o sal
Na pele dos marinheiros;
E o cheiro metálico
Do sangue que cá e lá
Jorrou.
O sangue de quem paga
A revolução
O progresso
A glória.
Vejo as memórias do paço
Reis e Princípes
Rainhas que vieram
E rainhas que foram
E a História a passear
Na mesma calçada
Onde posso caminhar.
Debruçada de esta mesma janela
De onde te vejo
Te oiço
Te sinto
Te abraço
Lisboa, de hoje e de sempre.


De Lisboa para Basel



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