Foto: Banco de Jardim em Londres by lilivanili
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Procuro a tua história nos teus cabelos desgrenhados, na barba
suja, há tanto tempo por fazer. Nas roupas também já não a encontro, porque
também já não são tuas as vestes que envergas e, pelo menos à primeira vista
atenta, não te encontro algo que tenhas guardado.
Tenho de olhar-te os olhos, apesar de não o querer fazer,
custa-nos sempre encarar quem um dia podíamos ser. Teus olhos dizem-me
tristeza, já o sabia, mas uma tristeza diferente, uma tristeza vazia, como o
resto que leio em ti.
Será que já foste completo, ou este vazio foi apenas o culminar
de uma vida que nunca teve nada a contar? Se já antes viveste, pergunto-me o
que te empurrou para os braços desta morte que se enrola no frio de Lisboa, ou
de qualquer outra cidade. Esta morte que se alimenta do que há, ou do que lhes
traz a bondade alheia.
Imagino que olharás os anjos da noite com o mesmo desprezo que
me atiras daí. Perguntando como pode alguém estender-te uma mão, se tu não a
tiras debaixo do casaco, a não ser para a aqueceres debaixo da outra.
Alheio aos meus pensamentos – ou não? – fazes o gesto de
adormecer, como que a mostrares-me o quanto sou aqui desnecessária…
Sigo então.
E neste frio longe de casa, só oiço os meus passos, num eco desconfortável,
pelo interromper do teu silêncio e do meu.
Caminho para casa e tu ficas, o eco irá perder-se, e talvez
durmas então.
Isa Lisboa