Quem lê / Who's reading

"a escrita é a minha primeira morada de silêncio" |Al Berto

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Amor flor de sal / Sea salt love

Assinatura de sal, Aline Frazão 

Requintado
Nada de banal
Para a vida
Essencial
Em demasia
Fatal.

Assim tu és
Amor flor de sal.

Das conversas com o Amor

***

Exquisite
Not at all ordinary
To life
Vital
When too much
Letal

That is you
sea salt love.


From conversations with love

sábado, 26 de janeiro de 2013

Virias da chuva / You would come from the rain


Música: Quando a chuva passar, Paula Fernandes


Estou à espera
que a campainha toque.
Virias da chuva,
para que as gotas frias
acalmassem
a minha pele.

Um dia de chuva.
É bom dia para vires.

Mas virás num dia de sol,
quando eu não te esperar.
E é por isso que espero
que a campainha toque,
para depois
bateres à porta
suavemente,
deixando apenas a frescura da chuva,
como se fosses orvalho.

Se tivesses relógio…
Como seria o toque da campainha…?
Seria o mesmo…?

Retirado do baú, Março de 2011

I'm waiting
for the bell to ring.
You would came from the rain,
so that the cold drops
calm down
my skin.

A rainy day.
It’s a good day for you to came.

But you will come on a sunny day,
when I’m not expecting you.
And that’s why I’m waiting
for the bell to ring,
So that
you knock on the door
gently
leaving only the freshness of rain,
as if you were dew.

If you'd had a watch ...
How would it be, the sound of the bell ...?
It would be the same one...?

From my chest,, March 2011

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Depressa demais / Too fast


Costumava correr atrás das flores.
Saltar para apanhar as nuvens.
Tentar apanhar um punhado de estrelas.

Agora sei que as flores não se movem.
Que as nuvens estão altas demais.
Que as estrelas ainda mais longe estão.

Cresci depressa demais.

Foto da web


Used to run after the flowers.
Jump to catch the clouds.
Try to catch a handful of stars.

Now I know the flowers don’t move.
The clouds are too high.
That the stars are further away.

I grew up too fast.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Músculo / Muscle

Alma aprisonada, by Juliana Merenge


Ofereço-te o meu pescoço
Nu.

Crava nele o teu veneno.
Ainda que eu resista
ignora o que me faz
estremecer.

Suga-me o vazio
deixa-me só
o coração.

Músculo apenas
foi.
Deixará de ser.

Das conversas com o Amor

~.~

I offer you my neck
Naked.

Put your poison in it.
Even if I resist
Ignore that which makes me
tremble.

Suck the emptiness out
Leave only
My heart.

Only muscle
It was.
No longer it will be.

From conversations with love

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Whispers

Photo: Black Billie, by Geert Orye


One day I’ll be the cat lady. 

I just can feel it.

I will close the door and the eco will make me deaf.



sábado, 12 de janeiro de 2013

Anjo Caído / Fallen Angel

Anjo Caído, Isa Lisboa

Quando te conheci ainda tinhas nas costas as marcas das asas perdidas.
Ainda tinhas cachos de cabelo loiro, olhos de fogo.
Ainda te era estranho caminhar com dois pés, não poder planar, olhando os humanos ao longe.
Pensei que devia ser difícil para ti estares assim longe de casa, cair assim, como se fora uma ave que ficou sem ninho e que já não sabe voar. Trocar a vertigem fresca das alturas pela terra seca, que duas pernas desabituadas teriam agora que aprender a conhecer.
Quanto mais te ouvia, mais percebia que eras um anjo, disso nunca tive dúvidas.
Só me esqueci de perguntar de onde tinhas caído; e não vi que as últimas penas que te caíram não eram brancas, eram negras.

~.~

When I met you still had the marks of the lost wings on your back.
You Still had bunches of blond hair, fiery eyes.
It was still strange for you to walk on two feet, to know you could not float, looking at humans from afar.
I thought it would be difficult for you to be so far from home, to fall like that, as if you were a bird who lost it’s nest and no longer know how to fly. Change the fresh vertigo  of the heights by the dry land, that two strange legs would now have to learn to know.
The more I listened, the more I realized that you were an angel, of that I never had doubts.
Only I forgot to ask where you had fallen from,  and I didn’t see that the last feather that fell were not white, they were black.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Destronada / Dethroned

Chess player, by Alejandra Mavroski

Suspensa.
Do teu olhar.
Electrizada.
Pelo teu toque.
Rendida.
Aos teus lábios.
Condenada.
Pelo grito confesso.

.Destronada.

Das conversas com o Amor

Suspended.
By your eyes.
Electrified.
By your touch.
Rendered.
To your lips.
Condemned.
By the confessing scream.

. Dethroned.

From conversations with love

sábado, 5 de janeiro de 2013

Petra

El Tango de Roxanne, Moulin Rouge


Onde mora Petra?
Todos a conheciam, na última casa ali ao fundo, aquela pequenina, de telhado vermelho, com a luz mais fugidia da rua.
Bateu à porta, uma mulher que passava olhou-o, como se já o tivesse visto antes.
Petra veio à porta, o que fazes aqui? Agora não é hora de trabalho e nunca atendo aqui, esta é a minha casa.
Vim ver-te, Petra, quero falar contigo, deixa-me entrar.
De todos os seus clientes, Tomás era o mais gentil. Por vezes, até a fazia achar que o Mundo era belo, como nos livros que tinha sempre consigo, que às vezes lhe lia.
Deixou-o entrar.
Petra, vou-me embora, chamaram-me à cidade.
Não precisavas vir aqui dizer-me isso, atirou Petra, surpreendida pela amargura que reconheceu na sua voz.
Quero que venhas comigo.
Não sejas tolo, que iria eu fazer contigo??
Recomeçar, disse-lhe ele, comigo. Sabes bem que te amo, que…
Amor? – interrompeu-o. Palavra estranha aquela, sempre o achara. Nem me conheces, não me chamo Petra, sequer.
Vem comigo e muda o nome para o que quiseres.
Petra sabia que o amor era efémero e que Tomás seria um dia do Mundo, do Mundo dos seus livros, que escreveria novas páginas, de outros livros. E que ela não teria, então, lugar nesse Mundo.
Sou Petra e serei sempre Petra. Vestida em vermelho fulgurante, despida em lençóis baratos, oculta pela noite.
Amada entre quatro paredes, pensou Petra. As paredes que abafaram o resfolegar húmido do primeiro dia. Que abafaram o som das lágrimas que acabaram misturadas em suor, ignoradas nos lençóis.
Petra sabia que para lá daquela porta só chegava quem procurava enganar a solidão. A maioria procurava apenas libertar o desejo. Alguns procuravam o amor de ilusão consentida.
Petra não precisava ensaiar, fazia o seu papel de improviso, sempre de acordo com o argumento que esperava quem chegava.
Assim era amada por uma hora, uma noite. E esquecida no dia seguinte.
Sou Petra, não sei ser mais ninguém. Serei Petra até que o meu corpo murche e deixe de ser bonita na luz fraca da noite. Pertenço à penumbra, sou Petra à noite, durante o dia sou ninguém. Deu-lhe um beijo leve nos lábios e empurrou-o para a porta. Adeus.

A noite estava a chegar.

**

Do you know where Petra lives?
Everyone knew her, the last house in the corner there, that little one, with red roof, and the most elusive light on the street.
He knocked on the door, a woman passing looked at him as if she had seen him before.
Petra came to the door, what are you doing here? Now is not the time for work and never receive clients in here, this is my home.
I came to see you, Petra, I want to talk to you, let me go in.
Of all her clients, Thomas was the kindest. Sometimes he even made her think the world was beautiful, like in the books that he had always with him, that sometimes he read to her.
She let him in.
Petra, I'm leaving, I was called to the city.
You did not have to come here to tell me this, threw Petra, surprised by the bitterness she recognized in her own voice.
I want  you to come with me.
Don’t be silly, what would I do with you there?
Start over, he told her. You know I love you, you ...
Love? – She nterrupted him. Strange word that one, she had always thought so. You don’t know me, even my name, it’s not Petra.
Come with me and your name to whatever you want.
Petra knew that love was fleeting and that Thomas would be of the World one day, the World of his books, he would write new pages in other books. And then she would not have a place in this World.
I am Petra and will always be Petra. Dressed in brilliant red, undressed in cheap bed sheets, hidden by the night.
Loved between four walls, thought Petra. The walls that muffled the damp snort of the first day. That drowned out the sound of tears mixed with sweat, which ended up ignored in the sheets.
Petra knew that through that door only came those who seeked to deceive solitude. Most sought only to liberate desire. Some sought the love of consented illusion.
Petra did not need to rehearse, she did her part improvising, always according to the argument that those who came expected.
So she was loved by one hour, one night. And forgotten the next day.
I'm Petra, I can not be anyone else. Petra I will be until my body wither and I cease to be beautiful in the dim light of the night. I belong to the gloom, I'm Petra at night, during the day I am nobody. She gave him a light kiss on the lips and pushed him toward the door. Goodbye.

The night was coming.
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